Tuesday, March 27, 2007

Pescoço, não se usa?

Apenas uma pequena alusão a Caju, virtuoso avançado do Alverca, também conhecido como babysitter de Deco.

Os Saltimbancos do Futebol Nacional

Vítor Vieira. Se for ver ao dicionário a definição de saltimbanco, aparecerá a fotografia do extremo direito ao lado de «artista de circo».

Jogador raçudo, de drible fácil e arranque mortal, Vítor Vieira inexplicavelmente nunca assentou num clube. Duas épocas é o seu recorde. Estranho, no mínimo, se notarmos trata-se de um dos extremos de maior renome no nosso futebol. Quem não consegue fechar os olhos e imaginar as suas subidas no flanco até à linha, onde largava invariavelmente um centro remate para uma zona aleatória da área adversária.


Mas a lista de Saltimbancos não se fica por aqui. Quim Machado, actual número 10 do Dudelange*, clube onde descobriu a veia goleadora, também tinha “fogo no rabo”. O lateral direito de cabelo comprido e enorme propensão para subidas pelo seu flanco, também era alérgico a mais de duas épocas num clube.

*campeão do Luxemburgo



Será que estamos perante jogadores com medo de revelar os seus sentimentos, com dificuldade de compromisso? Tratam-se de valores seguros, que viajam por clubes de igual valia, sempre como titulares. Serão reguilas, peidarrentos? Toda a gente sabe o quão desagradável se pode tornar uma bufa de Vítor Vieira dentro do autocarro do Belenenses numa deslocação a Guimarães. Terão os membros mais veteranos do plantel vetado a continuidade de Vítor no clube da cruz de Cristo? Serão Ivkovic, Teixeira e Mauro Airez assim tão mesquinhos? Ou estaria o balneário a cansar-se das constantes graçolas do extremo em relação ao nome do defesa do lado oposto, Álvaro Gregório, prevendo tempos difíceis com as prováveis contratações de Paulo Madeira e Lula?

Nunca saberemos as respostas para muitas destas perguntas… resta-nos especular, se bem que a hipótese dos traques parece-me duramente provável.

Factos e Figuras: O Sisudo Dane

Impassível e sereno. Com apenas duas palavras Dane Kupresanin é caracterizado.

Nasceu na Bósnia Herzegovina, mais propriamente em Belgrado, no já longínquo ano de 1966. Possuidor de uma estampa física macabra, de 1,84m por 82kg, era um avançado que pura e simplesmente massacrava as defensivas adversárias. Proveniente do Famalicão, clube irrepreensível na arte de abrir as portas e servir de trampolim para jovens jogadores à procura de sorte no relvado, caso de Tanta, Ben Hur ou mesmo Medane, foi no entanto ao serviço do Vitória de Guimarães que Dane alcançou a fama.
Era um ponta de lança da clássica escola balcânica, que nos proporcionou mitos como Darko Pancev, Dragan Lepinjica (conhecido entre nós simplesmente como Lepi), ou mais recentemente Savo Milosevic e Petar Krpan. Fortes e assassinos na cara do golo, com um sangue frio capaz de arrepiar o mais morto dos cadáveres, estes pontas de lança não periclitavam perante nada nem ninguém.
E quem melhor como exemplo do que Dane? Em qualquer imagem, quer estivesse a posar para a caderneta do campeonato, em chamas ou a cair de um precipício rumo ao beijo mortal do asfalto, ou mesmo se estivesse a evacuar um sólido colossal, o bósnio mantinha sempre a mesma expressão de profunda reflexão e marasmo.
Era isto que o diferenciava de outros avançados, quiçá mais dotados tecnicamente ou com maior velocidade, e por isso mais agradáveis aos olhos da torcida. Dane não brincava. Um Constantino ou um Nuno Gomes, ou mesmo um Chiquinho Conde, eram avançados de qualidade indiscutível, mas que falhavam uma significativa quota-parte das oportunidades de que dispunham. Dane não. Dane, Conan o Bárbaro da cidade berço, como ficou conhecido em alguns círculos fechados, podia não ser um grande goleador, mas raramente falhava uma oportunidade de que dispusesse para fazer o gosto ao pé.
Era, essencialmente, um “burro de carga”, mas de apenas 2 pernas, o que fazia do seu papel algo ainda mais notável: levava consigo os defesas, para que os seus companheiros, e principalmente a sua equipa, beneficiassem. Assim sendo, muitos dos nomes sonantes de hoje em dia devem a Dane muita da sua fama. Ícones dos relvados como Gilmar, Zahovic, Pedro Barbosa e Ziad, entre outros, beneficiaram e aprenderam com o possante avançado.

Trata-se novamente de um incomodativo caso de não valorização de um elemento fulcral para o funcionamento da táctica e sucesso do clube. Novo caso de 10+1, em que esse um unia os outros dez em volta da ratoeira táctica que encarnava. Dane era como que a árvore com bananas que atraía todos os macacos (leia-se defesas adversários), para que as outras arvores (leia-se companheiros de equipa) chegassem a bom porto (leia-se marcassem golo).

Apesar de o seu valor não ter sido devidamente reconhecido por grande parte da opinião pública, o Vitória não deixou de valorizar e agradecer o contributo de Dane para o conjunto, pelo que lhe foi atribuída diversas vezes a dorsal 10 do clube. Abandonou o Guimarães no final de 95/96, perante o pesar e as lágrimas daqueles que realmente apreciavam a qualidade de Kupresanin, para se dedicar a tempo inteiro ao seu hobby, jogar ao sisudo*.

*também conhecido como o jogo do "sério".

Lanço aqui apenas uma dúvida em relação a Dane. Imperturbável e sempre com o mesmo semblante, não há provas documentais de que o avançado jugoslavo tivesse dentes. No entanto, parece improvável que tenha ganho aquele corpanzil a comer papas e sopas. Será que Dane tinha uma trituradora em casa, para a qual encaminhava manadas e da qual extraía sumo de novilho, ou será que era possuidor de dentes postiços que não usava nos dias de jogo, de modo a assustar os defesas, sem deixar, no entanto, que as objectivas capturassem esses momentos de intenso terror. Fica a dúvida na mente do leitor…


Mais Olhos Que Barriga

Não há nada mais hilariantemente constrangedor do que um jogador sem noção do seu real valor. É de bom gosto, aquando da primeira aparição na sala de imprensa do clube que acabou de o contratar, sem ter jogado uma única partida, afirmar “espero que este clube seja um trampolim para um grande clube europeu”. Estou a falar de Renato, aquando da sua transferência de Leiria para Alvalade, acompanhado por Leão, e seguindo o mister Carlos Manuel.
Parece mesmo que Leiria é uma Chernobyl por controlar, e que os jogadores do clube desenvolvem um estranho síndrome de gigantismo moral, ou não tivesse Luís Vouzela afirmado de forma veemente que tinha valor para jogar no Inter de Milão. O presidente Moratti estava ocupado a comprar papel higiénico de folha tripla, pelo que se escusou a comentar.

O Drama dos Maus Penteados - Parte Seguinte

4) O Imperador

Por muito que tentasse, nem o rei da música portuguesa - o grande Marco Paulo, antigo João Simão - conseguiria contemplar as suas legiões de fãs como uma cabeleira farta ao estilo do avançado espanhol Do Santos.
Desportivamente, saiu fiasco, pois não se conseguiu afirmar na capital algarvia. No entanto, foi um marco na história dos penteados em Portugal, dividindo-a no período pré-do santos e pós-do santos.
Muitos pseudo-entendidos no mundo do couro cabeludo podem contestar esta eleição, argumentando que a cabeleira de Paixão é bem mais espessa e impressionante… não contesto isso. No entanto, o Imperador, superior aos reis por defeito, tem que ter “algo mais” do que esses “meros governadores”. E a diferença entre o avançado espanhol e o defesa português é que, enquanto Paixão tem o cabelo ao natural, despenteado como uma zebra selvagem*, Do Santos apresenta-se aos sócios com toda uma idiossincrasia capilar, seguramente cuidada pelos melhores profissionais do ofício. Numa exposição canina, o rafeiro capilar do avançado espanhol seria best of show.
Assim sendo, Do Santos é o imperador capilar do futebol português!

*qualquer incoerência com a secção anterior, em que alegadamente Paixão gastaria 47% do vencimento no salão do cabeleireiro, é um jogo mental que a mente está a pregar ao leitor. Adiante.



5) Efeito-Microfone

Se certo dia, junto ao túnel de acesso aos balneários, surpreender um repórter de campo a falar para a cabeça de Sérgio Duarte, não se preocupe. Toda a gente sabe que esses repórteres são as criaturas uni-celulares do jornalismo desportivo, apenas estando junto ao relvado para travar a progressão do esférico após um potente remate de King do meio da rua, ou mesmo para chatear os treinadores antes do início da partida com perguntas extremamente elaboradas: “comentários?”, ou “acha que vai ganhar?”, ou mesmo “em que medida empregou o existencialismo cristão de Kierkegaard na sua palestra aos jogadores esta tarde?”.
Observando agora a fotografia de Sérgio Duarte, as semelhanças com um microfone são gritantes. Assim sendo, trata-se de um erro perfeitamente legítimo por parte das referidas anémonas jornalísticas. Muitos jogadores adoptaram o estranho penteado de modo a usá-lo para aquilo que denominei como “efeito-microfone”. E, claro, trata-se de nova ratoeira táctica!



RATOEIRA TÁCTICA NÚMERO 3: O “EFEITO MICROFONE”

O comum jogador da bola tem fome de fama. Com um penteado efeito-microfone, o jogador em questão atraía os adversários com promessas de glória, se simplesmente lhe falassem para o couro cabeludo, dado que à vista desarmada é facilmente confundível com um simples microfone. Aproveitando a distracção alheia, o astuto possuidor do efeito seguia com a bola, criando situações de inevitável perigo para a baliza contrária.



Como é usual, usar gasta! Assim sendo, aquilo que pode começar como um bonito microfone (exemplo do Sérgio Duarte), pode acabar gasto, despenteado, e com as pontas secas e espigadas. Para isso há champôs e condicionadores.
No entanto, é bom sinal ter o microfone gasto: pode ser sinónimo de que se vem tendo uma boa carreira, e que se usou por diversas vezes o “efeito-microfone”.
Samuel, antigo defesa do Benfica e do Guimarães, teve uma imponente carreira, tendo mesmo sido internacional pela selecção das quinas por 27 ocasiões (5 na «AA»). Jogador velocíssimo, tem justificação para o estado deplorável a que deixou chegar o seu “microfone”.
O mesmo não se pode dizer de Fabrice Alcebiades Maeco, minguado nas lides futebolísticas para um singelo Akwá. Chegou a ser apelidado de novo futuro Eusébio, mas nunca vingou em Portugal, tendo acabado a jogar no Qatar. Talvez tenha sido o “efeito-sombra”* que o envolveu numa enorme depressão, limitando as suas exibições no relvado, o que se reflectiu no estado do couro cabeludo. Mas Akwá ainda é jovem, e está a tempo de engendrar um regresso, se não para se tornar no novo pantera, pelo menos num em 2ª mão.

*outra ratoeira táctica, adiante explorada.



6) Nichos Capilares

De quando em vez aparecem uns toucados que, pura e simplesmente, não conseguem ser inseridos em categoria alguma. Falo de nichos capilares, zonas nunca antes sondadas por escovas terrestres.
Mas quem são esses Vascos da Gama do nosso futebol?
Comecemos com o extremo esquerdo gilista Lim, um valor seguro que fazia os 0 aos 100 em pouco mais de dois soluços. No entanto, sempre pecou na finalização e no cabelo. Uma quantidade barbárica de gel ficava no relvado após qualquer jogo da equipa de Barcelos. Chegou-se mesmo a ver Mangonga, isolado, a escorregar num pedaço de gel perdido e a engolir um bife vegetariano.
Depois temos aquele que ficou conhecido como o “franjas”. Eusébio de seu nome, era um trinco de uma estampa física invejável. Chegou mesmo a assustar alguns adversários que julgavam estar perante Frankenstein. A diferença era que nem Eusébio tinha dois ferros a sair das zonas laterais da cabeça, nem Frankenstein se apresentava em campo com esta franja sobre-cortada. De resto, não há que tirar nem pôr.



E já que estou numa onda de analisar as formas estranhas dos penteados de certos jogadores, é apenas um pequeno salto até à análise das formas estranhas das cabeças dos mesmos. E aqui há um senhor que tem a medalha de ouro assegurada. Trata-se de Djukic, jogador do Farense, e a sua cabeça em forma de taça de champanhe.
O próprio Paco Fortes chegou a fazer confusão entre o jogador e a bebida: Estávamos no início da época 91/92, em pleno balneário para o primeiro treino da época. Djukic acabara de ser contratado e o treinador ainda não o conhecia. Ao entrar na mesma sala onde estava sentado o montenegrino, o treinador catalão, há três anos em Faro, diz (frase traduzida de catalão para português):
“Epá, vocês são demais! Onde é que já se viu oferecerem-me uma taça gigante de champanhe para celebrar a terceira palavra que aprendi em português… podiam era ter tirado os pelos lá de dentro… Ah! Desculpa lá, deves ser o Djukic… não me olhes com essa cara, foi um erro legítimo, já te viste ao espelho?”

Acho bem que tenhas uma boa razão para esse cabelo - O Drama dos Maus Penteados

Antes de mais, há que referir que se trata de um tema muito delicado, que requer amaciador. Como muitos cabelos aderiram à moda das extenções, também este capítulo será um pouco maior que o usual. Assim sendo vou dividir, sem anestesia, este capítulo em diversas secções. Estas são: 1) Erros Comuns; 2) Com essa cara também não havia muito a fazer…; 3) Os Reis; 4) O Imperador; 5) Efeito-Microfone; 6) Nichos Capilares.

Estou seguro que muito mau penteado vai passar incólume às minhas bem intencionadas observações. No entanto, sou humano e este livro não tem aspirações a superar o tamanho da bíblia. Assim sendo, os casos que se seguem vão apenas servir de exemplos das diversas “barbaridades” capilares que já vaguearam pelos frescos relvados portucalenses.



1) Erros Comuns

Caro amigo jogador que acabou de atravessar o atlântico para jogar no país irmão: Os cabeleireiros já chegaram a Portugal há algumas décadas, antes mesmo dos dentistas. Se no Brasil não existem porque toda a população activa brasileira se concentra em 2 ocupações, jogadores de futebol e odontologistas, peço desculpa por referenciar os seguintes atletas da terra de Vera Cruz.
Arley Alvarez, jogador do Vitória de Guimarães, central de valor incontestável, mas com um penteado de fazer chorar Isabel Queiroz do Vale. Não está provado, mas pensa-se que terá saído da cidade berço após uma série de casas cometidas após o cabelo lhe ter tapado a visão, e por detrás ser parecido com a mulher do Pimenta Machado.

Os próximos dois visados podem muito bem ser enquadrados na mesma categoria: sebo-para-dar-e-vender. Será o óleo no cabelo grande e encaracolado uma manobra de diversão? Um esquema macabro, sacrificando a imagem pessoal em troca de um mais fácil deslizamento por entre os adversários?
Dinda, médio ofensivo que ganhou fama na União de Leiria devido ao seu fantástico tiro de longa distância, sempre se apresentou com uma gadelha a fazer lembrar uma árvore tropical.
Já o cabelo do central do Leça e do Boavista Isaías nos traz para um plano imaginário mais doméstico, nomeadamente o encantador mundo das esfregonas.




2) Com essa cara também não havia muito a fazer…

Nesta secção vou destacar aqueles que são os jogadores esteticamente menos felizes do futebol nacional. No topo do pódio, como não poderia deixar de ser, apresenta-se o antigo campeão nacional pelo Porto, Jorge Silva.
O seu efeito-medusa tornou-se numa das maiores “RT” das últimas décadas. Medusa, como é do conhecimento público, era aquela madame que tinha serpentes por cabelos, transformando em estátuas todos os que lhe olhassem nos olhos.
Este efeito, no entanto, está apenas ao alcance de um pequeno número de predestinados. Explicando do ponto de vista futebolístico:



RATOEIRA TÁCTICA NÚMERO 2: O “EFEITO MEDUSA”
Qualquer jogador que fique cara-a-cara com um possuidor do efeito-medusa congela, desperdiçando a oportunidade de golo.


Outro caso que se enquadra nesta sub-secção é o de Mário Artur. Trata-se de um dos expoentes máximos da dinastia “filme de terror”* com que a União de Leiria contemplou os seus adeptos e associados em meados da década de 90. Muitos pesadelos provocou o médio às crianças da cidade, não apenas pelo seu cabelo desgrenhado, mas também pelos seus olhos descentrados, que lhe davam a vantagem em campo, com uma amplitude de visão próxima dos 360º.

* Dinastia "filme de terror" será desenvolvida mais adiante na obra.

Apenas outro jogador rivalizava com Mário Artur em termos de largura óptica: Amaral, o coveiro do Benfica.
Amaral, trinco pouco encorpado mas de grande entrega dentro de campo tinha, como se sabe, um olho para cada lado. Em Portugal usou esse atributo para distribuir jogo como ninguém. No entanto, era demasiado caro para o Benfica e seguiu para a Fiorentina, de nada valendo as contas abertas de angariação de dinheiro para o aguentar no clube da águia.




3) Os Reis

Por muitas décadas que viva, lembrar-me-ei para sempre de dois mitos capilares dos nossos relvados. Jogadores indomáveis, que se exibiam nas tardes de domingo perante a massa associativa de cabelos ao vento, que lhes atribuía um ar de rebelde doidivanas, como que a dizer: “cuidado comigo, sou imprevisível!”.
Estão para o nosso futebol (ao nível de cabelo) como Elvis Presley para o Rock n’ Roll e Fátima Felgueiras para Felgueiras.
Falo, como não poderia deixar de ser, do defesa polivalente do Sporting Clube Farense, Paixão, e do avançado móvel da União Desportiva de Leiria, Pedro Miguel. As suas volumosas cabeleiras estão para estes dois atletas como um dibá* para a Pérsia. Não consigo imaginar a percentagem do vencimento mensal que estes atletas largavam no cabeleireiro.
Segundo dados estatísticos não comprovados, com uma margem de erro de 90%, baseados num inquérito a mim mesmo, cheguei ao valor de 47%.
Palavras para quê, se é assim que eles se sentem bem? Se este era o método utilizado para o incremento da autoconfiança e, assim, para a exponenciação da qualidade das suas actuações dentro das quatro linhas, então qualquer valor até 48% parece-me bastante aceitável. Só me custa aceitar a ignorância das principais marcas nacionais de champôs… como será que justificam o facto destes dois mitos nunca terem feito um reclame a um produto 3 em 1 ou de aumento do volume do cabelo em 70%? Lapsos de marketing que custaram milhões! Certamente que cabeças irão rolar no mercado publicitário nacional, depois de lerem esta minha ideia que escapou a centenas de criativos.
Consigo imaginar todos os sócios da União a usar um desses produtos e, domingo à tarde, com o sol a bater forte nas suas faces, sentavam-se todos nas bancadas do estádio municipal Dr. Magalhães Pessoa, para ver o desafio, formando uma gigantesca e uniforme constituição capilar, governada apenas pelas exigências eólicas.

*Brocado precioso, típico da Pérsia. Está para eles como os tapetes para Arraiolos… ou talvez não.


Como em qualquer monarquia, o herdeiro ao trono é o príncipe. Não sei se daria um bom governante, mas que dá um fabuloso príncipe do ponto de vista capilar, disso não há margem para sufrágio. Falamos do velocíssimo extremo Zito, que marcou uma dinastia em Guimarães e Belém. O seu penteado, digno de um filme sobre o mestre d’Avis, não envergonharia nenhum súbdito.

Friday, March 23, 2007

Pequenos Affairs 1: Gaston Taument e o futebol português

Rotulado de vedeta, Gaston acabara de estar presente no Europeu de futebol, onde havia sido presença assídua no onze durante toda a competição. Extremo de grande gabarito, foi contratado ao Feyenoord de Roterdão para tomar de estaca o flanco direito do ataque encarnado. No entanto, o futebol tem destas coisas.

Que coisas? Pergunta o leitor com razão… “coisas” são aqueles factores inexplicáveis, e como tal não têm designação própria, o que me leva a tratá-los por “coisas”, ou mesmo “factores”.
As “coisas” fazem com que situações anómalas e/ou macabras aconteçam. Situações essas nas quais o drama de Taument se enquadra perfeitamente.
Como é possível que um internacional holandês de renome galáctico chegue à luz e não convença num abrir e fechar de olhos, também conhecido com um "piscar de olhos"?
A única explicação plausível que encontro (para ser honesto, não procurei muito) envolve a grande sombra que Gaston enfrentou.
Não a sombra dos seus longos, encaracolados e oleosos cabelos negros, mas sim a sombra deixada pelo seu antecessor, o TGV holandês Glenn Helder, que Taument supostamente viria substituir e fazer esquecer dos calorosos corações benfiquistas.

A tarefa era difícil, senão mesmo ingratamente impossível, para mais quando se joga junto à linha, perto das sempre perigosas velhas do buço (primas dos velhos do restelo pelo lado das mães), com lugar cativo na primeira fila, que passam o jogo todo aos berros, em treino específico para a semana de trabalho. É difícil convencer alguém que, quando um jogador passa com a bola pela linha central do terreno, começa a uivar "chuuuuuuta!".

Para a posteridade fica registado como o jogador mais parecido com O Predador que alguma vez pisou os nossos relvados. Talvez o desfecho da história fosse outro se tivesse usado esse trunfo para arrepiar os pelos da nuca das velhas peixeiras… ou talvez tivesse apenas levado com um bacalhau da Noruega na tromba.


O Drama do clã Gregório – Equívocos com nomes no futebol

Ao longo dos anos, muitos nomes infelizes passaram pelos nossos relvados. Jogadores cujos apelidos ou alcunhas faziam as delícias dos elementos mais gozões de qualquer plantel.

Vamos aqui fazer um pequeno exercício mental. Não vou pedir ao leitor para fechar os olhos, pois não faria sentido, dado que precisa deles abertos para ler. Pode, no entanto, semi-cerrar os olhos, como se estivesse numa tempestade de areia, ou fechar apenas um olho, desde que não cite Os Lusíadas.

Agora imagine-se no balneário do União de Leiria na época de 95-96, antes de um jogo contra o Felgueiras do tridente tobaguenho Lewis-Earl-Clint, comandado pelo gentlemen Jorge Jesus.

O defesa esquerdo do clube do lis, Álvaro Gregório, jogador com créditos firmados no principal escalão nacional, vive num pesadelo. Época após época é gozado de forma esmagadora pelos seus colegas. Desta vez é Paulo Duarte, genro do presidente do clube e, como tal, titular absoluto, que faz troça de Álvaro: “Epá, ontem comi um Kebab que me caiu mesmo mal… fui três vezes ao Álvaro”.

O mister Vítor Manuel, cujo boné faz parte integrante da sua anatomia, continua o massacre: “ok pessoal, quero ver tudo a dar o máximo em campo. Não parem até sentirem o Álvaro a subir-vos pela garganta!”.

Os estrangeiros da equipa, Miroslav (o marcador de penaltis) e Tahar El Khalej (o marcador de pitons em pernas), devido às evidentes dificuldades com o idioma luso, quando se referiam ao lateral utilizavam aquilo que achavam ser uma alcunha carinhosa, “Buahhh!” *.

Muitos especialistas apontam esta como a principal razão para o eclipsar da carreira de Álvaro, outrora visto como dos mais promissores pés esquerdos do nosso futebol.

*som provocado pela acção regurgitante.


Trata-se de um drama apenas comparável ao de outro defesa português… duas épocas antes a mesma graçola era aplicada a Rui Gregório no balneário do Setúbal. Trata-se de situações que normalmente não saem dos balneários, mas que importa denunciar. A diferença foi que Rui era central, mais forte não só física, mas também mentalmente, pelo que suportou bravamente a galhofa dos colegas de balneário.

Tinha também o desconto de dividir o balneário com outros mitos como Hélio (está ainda por confirmar se o nome está relacionado com o timbre da voz), Pica ou mesmo Rosário (um famoso rato atómico).

Isto para não falar nos equívocos a que estes nomes caricatos por vezes davam origem. Trata-se de mais uma aplicação do famoso corolário «a língua portuguesa é muito traiçoeira».

Vítor Manuel berrava no treino: “Álvaro Gregório!”, respondendo o visado: “outra vez mister? Até já vi o guisado de ontem!”. Vítor Manuel ficava estupefacto sempre que o seu pupilo lhe vinha implorar para parar, com uma cara pálida a roçar o transparente, e erguendo o punho mostrando no mesmo a prova incontestável que a bílis havia saído, que o demónio havia sido expurgado com êxito.

Regressando a Setúbal, mas umas épocas depois, não foram raras as vezes que o mister Quinito acabava os treinos com quilos de tábuas a seus pés, após muito incentivar o seu guarda-redes Marco.


Acho que os exemplos apresentados atrás são mais do que prova do drama a que alguns atletas são sujeitos diariamente. Assim, escuso de contar as tragédias gregas de Pedro Espinha, Penteado, Paulo Alves (o treinador da altura, Waseige, não exibia um português fluido, pelo que o chamava por Paulo Aves…), Néné Santarém (neste momento em tribunal como principal réu do caso "aquecimento global"), Quim Machado, Paulo Madeira e, principalmente, Paulo Torres.

Cultura Geral e os Nomes

Fizemos uma sondagem completíssima a um jogador aleatório do Felgueiras, sobre qual seria a capital da Austrália. Ele pensou muito e disse Sidney. Errado!

Outra sondagem completíssima, desta vez em Faro, e a resposta foi Melbourne. Errado.

Invariavelmente, todos os clubes questionados davam uma resposta errada.

Até que chegamos a Vila do Conde e, numa sondagem completíssima, o jogador aleatório respondeu Camberra. Certo!

Está bem que o jogador inquirido estava apenas a chamar o seu colega, homónimo da capital australiana, para o ajudar a responder. No entanto, isso não invalida o facto do Rio Ave ter ganho o prémio para o clube mais culto do futebol nacional.



Situação caricata em Setúbal

Instado e revelar qual a contratação mais sonante que iriam efectuar nessa época, o treinador do clube diz: “Aziz!”. Estupefacto, o jornalista apenas consegue responder: “Não, mas também não é preciso, pois neste quadro escreve-se com marcador!”.

Apenas uma graçola seca para quebrar a tensão.

Tuesday, March 20, 2007

Merdolazzi? - Concurso de Piores Nomes

Desde o início dos tempos, mais propriamente desde o primeiro homem, que há nomes. Isto deve-se à ineficácia de tratar pessoas por “oh tu aí!” “Quem, eu?” “Não, aquele neandertal que está a dançar sapateado antes da invenção do sapato!”.

O primeiro homem chamava-se Adão. Com uma estreia dessas, não me surpreende que as coisas tenham descambado desta forma.

Certo dia perguntaram na rua pelo antigo avançado boavisteiro: “Conhece Bertolazzi?”, ao qual o sujeito respondeu: “Epá, eu não sou homem de queijos. Prefiro paio.”


Queria agora aproveitar para salutar a decisão do antigo guarda-redes guineense do Moreirense, em mudar o nome pelo qual era conhecido no futebol português. É que no início da época 97-98, o dono das redes em Moreira de Cónegos (na altura a disputar a liga de honra) dava pelo nome de Crodonilson… Feliz a iluminação divina que o fez reduzir essa denominação para um simples e simpático Nilson. No entanto, perdeu no efeito-susto.


RATOEIRA TÁCTICA NÚMERO 1: O "EFEITO-SUSTO"

Um vasto leque de vantagens psicológicas podem advir de se possuír um nome intimidador.



Quando se fala em maus nomes, há um que salta logo à vista… trata-se do antigo avançado belenense, o brasileiro Monga. Qualquer comentário a este nome perderia o brilho perante o nome em si, logo vou limitar-me a dizer o nome mais uma vez… Monga.

Existem, também, nomes com uma agressividade digna de uma pena de codorniz. Arrisco afirmar que esses nunca serão levados a sério (dica: evitar o sufixo inho e nomes foneticamente questionáveis), como os seguintes exemplos:

o Paixão (sentimentos bons dão nomes maus… dá-se preferência a um “vingança” ou um “dor de hemorróidas”);

o Kokoshvili (qualquer nome que comece por cocó está automaticamente desqualificado);

o Tulipa (os nome de flores são de evitar, salvo raras excepções como “cacto” ou “flor murcha pelo poder maligno”);

o Chico Nelo (Nelo é um nome que por si só tira a veia guerreira a qualquer coisa com que esteja ligado. Exemplo: Nelo Rambo…);

o Nelinho (depois do que eu disse sobre Nelo, acho que nada mais há a dizer aqui, a não ser rezar para que não saia o filme “Nelinho Implacável”…)


Um reparo final: nomes estrangeiros, principalmente africanos ou de leste, com letras pouco usuais (caso de W ou Y), salvo raras excepções (Kokoshvili sendo a mais gritante), dão sempre boas alcunhas futebolísticas. Poucos são os defesas que se atreverão a cruzar no trajecto de Mandla Zwane em direcção à baliza.

Nomes brasileiros têm uma deficiência quase crónica na componente ameaçadora. De Juninhos, Nénés e Juniores não reza a história como jogadores temíveis.


Factos e Figuras: Nos Tentáculos de Lula

Despontou para o estrelato no Famalicão. Ao lado de Ben Hur constituiu uma dupla que fez furor, sendo parte nuclear da defesa mais batida do campeonato, com uns auspiciosos 72 golos concedidos. Aparentemente a atenuante de ter Luís Vasco atrás, entre os postes, permitiu-lhe manter alta a sua cotação em Portugal.

Enquanto o seu anterior clube se afundava pelos escalões secundários, Lula esteve a treinar em Alvalade. No entanto, devido ao infame caso “Luís Manuel” , o Sporting ficou impedido de inscrever jogadores, tendo o central regressado ao Brasil durante as duas épocas seguintes, tendo sido posteriormente chamado de volta a território luso, desta vez para equipar pelo Leiria.

Com um poderio físico invejável e uma desgovernada gadelha outonal, Lula aparentava aos seus adversários esse mesmo gigante invertebrado que não cedia perante nomes na marcação individual. De salientar o famoso desafio em pleno San Siro em que Lula necessitou de utilizar todos os seus tentáculos para deter George Weah, numa gloriosa vitória portista por 3-2.

Os elogios eram frequentes por parte de diversos analistas desportivos. «É um jogador polivalente, quer a central, quer a central de marcação!». Após uma agradável época em Leiria (17 jogos e 3 golos), fez as malas e rumou a sul, ao Restelo, onde novamente formou grande dupla, tendo esta direito a destaque devido ao volume capilar conjunto de ambos os centrais: Lula e Paulo Madeira. Com tanto cabelo à sua frente, não era de estranhar que Ivkovic por vezes não visse a bola partir e acabasse mal batido.

De Belém passou para o Porto, numa célebre razia que o clube das Antas fez à defesa do Belenenses: Lula, Fernando Mendes e Neves. No Porto, apesar de estranha assiduidade, perdeu o brilho, a alegria de jogar, e o bigode.

Monday, March 12, 2007

Introdução

Antes de mais, um parêntesis:

(


Agora que já tirei isto do caminho, posso passar a explicar o título desta obra.

Na realidade, este livro não é bem um romance futebolístico. É meramente futebolístico. Mas se o catalogasse de apenas futebolístico, os homens adeptos de futebol seriam os únicos interessados. Não que sejam poucos, eu é que sou uma verejeira capitalista. Com o título de romance como apêndice, estou segudo que algumas senhoras, - Leonor Pinhão excluída - talvez o leiam.

Mas a categorização por mim dada a esta obra, um romance, não pode ser acusada de total ausência de sentido. Senão, notemos: quantas pessoas por esse Portugal fora não relembram com intensa nostalgia as solarengas tardes em que, por entre uns quantos nogats 3/100, viam as fantásticas exibições de Ewerton - no caldeirão dos Barreiros ou através do televisor - sempre com o seu estimado boné, a manter acesa a chama europeia Maritimista? Para demasiados apreciadores do jogo da bola, recordações como esta dão autênticos romances, com momentos de alegria e confraternização com um próximo anónimo contrastados com sentimentos de profunda tristeza e uivos indecifráveis aos céus.

Se, no topo de tudo isto, adicionarmos o facto de que os guarda-redes são constantemente valorizados pelos seus singulares golpes de rins, então as tardes na Madeira extrapolam o romance em direcção do épico. Surpresos por esta afirmação vinda do nada? Um verdadeiro connosseur do nosso futebol seguramente não ficaria. É que Ewerton Machado Joenisch era igualmente famoso pela sua qualidade e pelo facto de jogar sem o baço e sem um rim. Agora pergunto eu ao pseudo-adepto do guardião: Quão valorizadas ficaram as suas exibições, após considerados os mais recentes desenvolvimentos? Será que ficará memorizado para sempre como Ewerton, o redes do fantástico golpe de rim?

Tomando a liberdade de citar um inexistente comentário de Gabriel Alves, aquando de uma fabulosa defesa deste brasileiro a um remate de Sérgio Lavos:
Eeeeeeewerton, 1,86 metros, proveniente do futebol brasileiro, na madeira desde a temporada 87/88, leva todos os dias as crianças a escola antes de ir para o treino e tem um dos dentes da frente com a raiz morta, mas tal situação não lhe prejudica o mastigar. Tem ainda a categoria suficiente para possuir o mais impressionante golpe de uni-rim do futebol luso!

Prosseguindo e largando de uma vez por todas o adjectivo romântico, dado ser suicídio comercial tentar fazer concorrência aos livros da Sabrina, com as tuas constantes evocações do carnudo músculo do amor, o título de “A Ratoeira Táctica”, ao contrário assunto precedente, é facilmente explicável. Para bem da minha sanidade mental, e dada o constante uso do título, vou passar a designá-lo por “RT”.

Não estou a falar dos arranjos de Marcello Lippi na Juventus, com as constantes trocas de Nedved e Zambrotta nas laterais ofensivas. Nem de David Ginola, extremo esquerdo de categoria mundial, possuidor de um pé direito mortífero, se usado para o mal. Muito menos de um rato-de-área como Oleg Salenko, capaz de andar desaparecido durante toda uma carreira para surgir num jogo contra os Camarões e satisfazer a sua gula de golos*.

Toda e qualquer “RT” referida ao longo desta obra enquadra-se exclusivamente no âmbito nacional. Irei também referir diversos jogadores que passearam a sua classe pelos nossos relvados, famosos por possuírem a relva mais verde e com menos bicho - mesmo tendo em consideração a reles qualidade da cal, causadora de um intenso e duradouro ardôr a qualquer jogador que ousasse fazer um carrinho em cima de qualquer linha.

É de atletas como Roberto Matute que vou escrever. Porquê Matute? Não tem grande história em Portugal, pensa o comum adepto de futebol. Umas temporadas aceitáveis em Chaves, outra em Belém, e a inevitável queda no esquecimento… Errado!!! São jogadores como ele os mais profundos injustiçados do futebol português, e com esta obra eu quero emendar tamanho crime. Por não reconhecer mérito a Matute, o leitor deverá também proceder a um mea culpa, lendo este livro com uma recém adquirida humildade futebolística. Não tem de quê.

Passo a explicar, numa incrível viagem à longínqua época de 97/98:

Certo domingo, dia de jogo, José Romão - então treinador do Desportivo de Chaves - escalava a equipa para uma difícil deslocação a Vila do Conde (onde cintilavam artistas como Quinzinho, Sérgio China, e um Nelo ao qual o aproximar da reforma não retirava pujança), a dúvida surgia… usar ou não a “RT”? Para os mais esquecidos, a equipa transmontana era muito mais do que aquele famoso tridente formado por Milinkovic – Sabou – Dani Diaz. Muitos dos bons resultados devem-se à chamada - e perdoem-me a repetição, mas quero que esta expressão fique bem memorizada na cabeça dos leitores - “RT”.

Era também algo mais do que a operária e firme linha de quatro defesas, que gelava vez após vez as bancadas do Municipal de Chaves com entradas que enviavam os avançados contrários para o estaleiro durante meses a fio, apesar desse quarteto ter mérito:
Putnik, polivalente e outrora melhor jogador da Liga Fantástica Record; Paulo Alexandre, o eterno capitão e digno sucessor de outro mito, Manuel Correia; Quim Machado, uma referência para qualquer aspirante a lateral direito; e Parfait, que ficou na mente de todos não pela qualidade, mas pelo seu belo exercício capilar, a fazer lembrar o camaronês Makanaky.

Seguramente que a grande maioria está já farta de ler sobre ela, sem saber que, no final de contas, é a “RT”. Acompanhem-me. Nada mais elementar e óbvio, mas no entanto de uma genialidade e de uma eficácia letais, ao alcance de uma clarividência selecta. Que um desafio de futebol nos apresenta 11 atletas por equipa, está nas regras do jogo. Ora fora os 4 defesas e o tridente do Chaves, sobram 4 jogadores que não podem ficar no anonimato. Um, como não poderia deixar de ser, era o guarda redes. Luís Vasco nunca se deixou abater pelos 8 golos sofridos na Luz ao serviço do Famalicão – tal afirmação não se pode extender ao seu companheiro de equipa na altura, o defesa Celestino, autor de 2 dos tentos de belo efeito nessa infame noite -, e que foi para Chaves com a delicada tarefa de fazer olvidar Baston.

E ficam a sobrar agora 3, que convenientemente formaram uma das mais belas “RT” de que há memoria:
Vítor Vieira tinha no flanco direito um mundo a seus pés, como era seu apanágio por qualquer uma das dezenas de símbolos que representou. Depois aparecia Matute, Roberto Matute, ponta-de-lança espanhol dono de uma capacidade motora que perdia de vista a média. José Romão aplicava uma táctica muito comum no exército de terra, mais propriamente nos comandos, fazendo de Roberto um camaleão futebolístico, camuflado entre os defesas. Fazia isto pois sabia ter no avançado um ser demasiado poderoso para um defesa comum – táctica não aplicável a defesas de estampa física bizarra, como Jaap Stam, Tanta ou mesmo Dinis -, logo levava sempre dois, às vezes mesmo três defesas atrás de si, naquele que ficou conhecido como o “movimento de centrifugação de defesas de Roberto Matute”. Tudo isto para quê? Estou certo que os mais atentos já perceberam que falta o 11º e derradeiro jogador, que aproveitaria todos os pontos antecedentes para entrar disparado na grande área, fuzilando o guarda-redes adversário em qualquer tipo de clemência.

Infelizmente para as gentes de trás-os-montes em geral e para Zé Romão em particular, aqui entrou a gralha… é que Etienne N’Tsunda, apesar de ser um tecnicista cujos raides e deambulações não lineares punham qualquer defesa num estado de polvorosa gritante, nunca havia sido um finalizador, como demonstravam os 28 jogos e 2 golos na época anterior.



São estas nuances, consideradas insignificantes para uns, e que chegam a passar despercebidas para muitos outros, que ditam o fado de demasiadas equipas: tão fácilmente as erguem ao patamar europeu como as rebaixam para as cercanias da incómoda linha de água. São pequenos detalhes que diferenciam a genialidade da mediania. Etienne foi uma dessas nuances numa teoricamente brilhante “RT”.

Porventura acabo de revelar um dos mais bem guardados segredos da saudosa Primeira Divisão. Não posso, no entanto, quedar-me por aqui. Sinto uma necessidade altruísta, quase que um chamamento divino exigindo-me que preste homenagem outros tantos jogadores que, tal como N’Tsunda ou Matute, não podem cair no eterno poço do esquecimento, mesmo jamais terem sido recordados.

É esta a motivação que me mantém sentado e me dá forcas para escrever. Talvez seja este o propósito maior da minha vida, qual Robin Hood furtando aos financeiramente abastecidos…

Porque será que Hassan e Paco Fortes retiveram todo o mérito dum Farense europeu? Será que atletas como Djukic ou Paixao não constituíram outra “RT”, mas não lhes foi dado créditos a colher, enquanto Hassan Nader fez as malas para a Luz e o catalão assinou um novo e engrossado contrato com o emblema algarvio? Situações como esta não podem passar incólumes, sem que o comum adepto de futebol, que aprecia a evolução do esférico pelo tapete verde, tenha conhecimento e que a necessária consagração seja atribuída aos atletas em questão.

Assim sendo, esta obra não é um romance, é sim um agrupado de murais, só que em papel, que agradecem e tributam alguns dos jogadores que passaram pelo futebol nacional e aos quais não foram prestadas as honras que porventura mereciam.

No entanto, e com o intuito de se destacar das demais, esta obra vai além das simples, mas brilhantes, “RTs”.
Focando-me nos anos 90 do futebol nacional, destacarei aqueles que se distinguiram, por todos os géneros de razões, como os mais exóticos jogadores dessa mágica década do nosso futebol. Mágica porquê? Pergunta o leitor. Por ora, deixarei os textos e imagens responder a essa questão, regressando à mesma em altura atempada.

Finalmente, a lei e o bom senso incutem-me a necessidade de destacar que todos e quaisquer relatos aqui narrados nada têm a ver com a realidade, à excepção das fotografias dos atletas e de alguns dados estatísticos.

___________________________________________
*Alusão óbvia ao jogo Rússia vs. Camarões, no campeonato do mundo USA’94, em que Oleg Salenko marcou nada menos do que 5 golos, ultrapassando o antigo recorde de Butragueño, 4.

Thursday, March 8, 2007

Ponto prévio

Passam agora 3 anos da altura em que começei a escrever A Ratoeira Táctica. Na altura, nada mais aparentava ser do que um conjunto de textos soltos com memórias longínquas que retive sobre o nosso futebol.

Foi em finais dos anos 80 que começei a ver futebol, foi nos anos 90 que o começei a entender.

Em 1990/91 fiz a minha primeira caderneta do campeonato nacional. Seguiram-se todas as épocas seguintes, até 1998, altura em que abandonei as competições internas dedicando-me exclusivamente aos grandes torneios internacionais. É sobre esta década do nosso futebol que todos estes textos tratam.

Porque o nosso futebol consegue superar a polémica reinante com a falta de qualidade, porque se insiste em comprar no "chinês" e esperar qualidade, porque poucos existem que tenham planos fiáveis a longo prazo. Assim sendo o futebol é fraco, vazio, desapontante. E as crianças buscam futebol por outras paragens, mais férteis em espectáculo: sou do Benfica e do Real Madrid; sou do Porto e do Milan; sou do Estrela e do Rayo Vallecano.

Que fazer?
Eu? Eu gozo.

Posto isto, vou tentar escrever aqui regularmente os capítulos constituintes d'A Ratoeira Táctica, até que eventualmente toda a obra estará online.

Comentários são bem vindos. Ideias, críticas, correcções, barbaridades, tudo será visto como útil.
LCF