Tuesday, March 27, 2007

Acho bem que tenhas uma boa razão para esse cabelo - O Drama dos Maus Penteados

Antes de mais, há que referir que se trata de um tema muito delicado, que requer amaciador. Como muitos cabelos aderiram à moda das extenções, também este capítulo será um pouco maior que o usual. Assim sendo vou dividir, sem anestesia, este capítulo em diversas secções. Estas são: 1) Erros Comuns; 2) Com essa cara também não havia muito a fazer…; 3) Os Reis; 4) O Imperador; 5) Efeito-Microfone; 6) Nichos Capilares.

Estou seguro que muito mau penteado vai passar incólume às minhas bem intencionadas observações. No entanto, sou humano e este livro não tem aspirações a superar o tamanho da bíblia. Assim sendo, os casos que se seguem vão apenas servir de exemplos das diversas “barbaridades” capilares que já vaguearam pelos frescos relvados portucalenses.



1) Erros Comuns

Caro amigo jogador que acabou de atravessar o atlântico para jogar no país irmão: Os cabeleireiros já chegaram a Portugal há algumas décadas, antes mesmo dos dentistas. Se no Brasil não existem porque toda a população activa brasileira se concentra em 2 ocupações, jogadores de futebol e odontologistas, peço desculpa por referenciar os seguintes atletas da terra de Vera Cruz.
Arley Alvarez, jogador do Vitória de Guimarães, central de valor incontestável, mas com um penteado de fazer chorar Isabel Queiroz do Vale. Não está provado, mas pensa-se que terá saído da cidade berço após uma série de casas cometidas após o cabelo lhe ter tapado a visão, e por detrás ser parecido com a mulher do Pimenta Machado.

Os próximos dois visados podem muito bem ser enquadrados na mesma categoria: sebo-para-dar-e-vender. Será o óleo no cabelo grande e encaracolado uma manobra de diversão? Um esquema macabro, sacrificando a imagem pessoal em troca de um mais fácil deslizamento por entre os adversários?
Dinda, médio ofensivo que ganhou fama na União de Leiria devido ao seu fantástico tiro de longa distância, sempre se apresentou com uma gadelha a fazer lembrar uma árvore tropical.
Já o cabelo do central do Leça e do Boavista Isaías nos traz para um plano imaginário mais doméstico, nomeadamente o encantador mundo das esfregonas.




2) Com essa cara também não havia muito a fazer…

Nesta secção vou destacar aqueles que são os jogadores esteticamente menos felizes do futebol nacional. No topo do pódio, como não poderia deixar de ser, apresenta-se o antigo campeão nacional pelo Porto, Jorge Silva.
O seu efeito-medusa tornou-se numa das maiores “RT” das últimas décadas. Medusa, como é do conhecimento público, era aquela madame que tinha serpentes por cabelos, transformando em estátuas todos os que lhe olhassem nos olhos.
Este efeito, no entanto, está apenas ao alcance de um pequeno número de predestinados. Explicando do ponto de vista futebolístico:



RATOEIRA TÁCTICA NÚMERO 2: O “EFEITO MEDUSA”
Qualquer jogador que fique cara-a-cara com um possuidor do efeito-medusa congela, desperdiçando a oportunidade de golo.


Outro caso que se enquadra nesta sub-secção é o de Mário Artur. Trata-se de um dos expoentes máximos da dinastia “filme de terror”* com que a União de Leiria contemplou os seus adeptos e associados em meados da década de 90. Muitos pesadelos provocou o médio às crianças da cidade, não apenas pelo seu cabelo desgrenhado, mas também pelos seus olhos descentrados, que lhe davam a vantagem em campo, com uma amplitude de visão próxima dos 360º.

* Dinastia "filme de terror" será desenvolvida mais adiante na obra.

Apenas outro jogador rivalizava com Mário Artur em termos de largura óptica: Amaral, o coveiro do Benfica.
Amaral, trinco pouco encorpado mas de grande entrega dentro de campo tinha, como se sabe, um olho para cada lado. Em Portugal usou esse atributo para distribuir jogo como ninguém. No entanto, era demasiado caro para o Benfica e seguiu para a Fiorentina, de nada valendo as contas abertas de angariação de dinheiro para o aguentar no clube da águia.




3) Os Reis

Por muitas décadas que viva, lembrar-me-ei para sempre de dois mitos capilares dos nossos relvados. Jogadores indomáveis, que se exibiam nas tardes de domingo perante a massa associativa de cabelos ao vento, que lhes atribuía um ar de rebelde doidivanas, como que a dizer: “cuidado comigo, sou imprevisível!”.
Estão para o nosso futebol (ao nível de cabelo) como Elvis Presley para o Rock n’ Roll e Fátima Felgueiras para Felgueiras.
Falo, como não poderia deixar de ser, do defesa polivalente do Sporting Clube Farense, Paixão, e do avançado móvel da União Desportiva de Leiria, Pedro Miguel. As suas volumosas cabeleiras estão para estes dois atletas como um dibá* para a Pérsia. Não consigo imaginar a percentagem do vencimento mensal que estes atletas largavam no cabeleireiro.
Segundo dados estatísticos não comprovados, com uma margem de erro de 90%, baseados num inquérito a mim mesmo, cheguei ao valor de 47%.
Palavras para quê, se é assim que eles se sentem bem? Se este era o método utilizado para o incremento da autoconfiança e, assim, para a exponenciação da qualidade das suas actuações dentro das quatro linhas, então qualquer valor até 48% parece-me bastante aceitável. Só me custa aceitar a ignorância das principais marcas nacionais de champôs… como será que justificam o facto destes dois mitos nunca terem feito um reclame a um produto 3 em 1 ou de aumento do volume do cabelo em 70%? Lapsos de marketing que custaram milhões! Certamente que cabeças irão rolar no mercado publicitário nacional, depois de lerem esta minha ideia que escapou a centenas de criativos.
Consigo imaginar todos os sócios da União a usar um desses produtos e, domingo à tarde, com o sol a bater forte nas suas faces, sentavam-se todos nas bancadas do estádio municipal Dr. Magalhães Pessoa, para ver o desafio, formando uma gigantesca e uniforme constituição capilar, governada apenas pelas exigências eólicas.

*Brocado precioso, típico da Pérsia. Está para eles como os tapetes para Arraiolos… ou talvez não.


Como em qualquer monarquia, o herdeiro ao trono é o príncipe. Não sei se daria um bom governante, mas que dá um fabuloso príncipe do ponto de vista capilar, disso não há margem para sufrágio. Falamos do velocíssimo extremo Zito, que marcou uma dinastia em Guimarães e Belém. O seu penteado, digno de um filme sobre o mestre d’Avis, não envergonharia nenhum súbdito.

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