Impassível e sereno. Com apenas duas palavras Dane Kupresanin é caracterizado.
Nasceu na Bósnia Herzegovina, mais propriamente em Belgrado, no já longínquo ano de 1966. Possuidor de uma estampa física macabra, de 1,84m por 82kg, era um avançado que pura e simplesmente massacrava as defensivas adversárias. Proveniente do Famalicão, clube irrepreensível na arte de abrir as portas e servir de trampolim para jovens jogadores à procura de sorte no relvado, caso de Tanta, Ben Hur ou mesmo Medane, foi no entanto ao serviço do Vitória de Guimarães que Dane alcançou a fama.
Era um ponta de lança da clássica escola balcânica, que nos proporcionou mitos como Darko Pancev, Dragan Lepinjica (conhecido entre nós simplesmente como Lepi), ou mais recentemente Savo Milosevic e Petar Krpan. Fortes e assassinos na cara do golo, com um sangue frio capaz de arrepiar o mais morto dos cadáveres, estes pontas de lança não periclitavam perante nada nem ninguém.
E quem melhor como exemplo do que Dane? Em qualquer imagem, quer estivesse a posar para a caderneta do campeonato, em chamas ou a cair de um precipício rumo ao beijo mortal do asfalto, ou mesmo se estivesse a evacuar um sólido colossal, o bósnio mantinha sempre a mesma expressão de profunda reflexão e marasmo.
Era isto que o diferenciava de outros avançados, quiçá mais dotados tecnicamente ou com maior velocidade, e por isso mais agradáveis aos olhos da torcida. Dane não brincava. Um Constantino ou um Nuno Gomes, ou mesmo um Chiquinho Conde, eram avançados de qualidade indiscutível, mas que falhavam uma significativa quota-parte das oportunidades de que dispunham. Dane não. Dane, Conan o Bárbaro da cidade berço, como ficou conhecido em alguns círculos fechados, podia não ser um grande goleador, mas raramente falhava uma oportunidade de que dispusesse para fazer o gosto ao pé.
Era, essencialmente, um “burro de carga”, mas de apenas 2 pernas, o que fazia do seu papel algo ainda mais notável: levava consigo os defesas, para que os seus companheiros, e principalmente a sua equipa, beneficiassem. Assim sendo, muitos dos nomes sonantes de hoje em dia devem a Dane muita da sua fama. Ícones dos relvados como Gilmar, Zahovic, Pedro Barbosa e Ziad, entre outros, beneficiaram e aprenderam com o possante avançado.
Trata-se novamente de um incomodativo caso de não valorização de um elemento fulcral para o funcionamento da táctica e sucesso do clube. Novo caso de 10+1, em que esse um unia os outros dez em volta da ratoeira táctica que encarnava. Dane era como que a árvore com bananas que atraía todos os macacos (leia-se defesas adversários), para que as outras arvores (leia-se companheiros de equipa) chegassem a bom porto (leia-se marcassem golo).
Apesar de o seu valor não ter sido devidamente reconhecido por grande parte da opinião pública, o Vitória não deixou de valorizar e agradecer o contributo de Dane para o conjunto, pelo que lhe foi atribuída diversas vezes a dorsal 10 do clube. Abandonou o Guimarães no final de 95/96, perante o pesar e as lágrimas daqueles que realmente apreciavam a qualidade de Kupresanin, para se dedicar a tempo inteiro ao seu hobby, jogar ao sisudo*.
*também conhecido como o jogo do "sério".
Lanço aqui apenas uma dúvida em relação a Dane. Imperturbável e sempre com o mesmo semblante, não há provas documentais de que o avançado jugoslavo tivesse dentes. No entanto, parece improvável que tenha ganho aquele corpanzil a comer papas e sopas. Será que Dane tinha uma trituradora em casa, para a qual encaminhava manadas e da qual extraía sumo de novilho, ou será que era possuidor de dentes postiços que não usava nos dias de jogo, de modo a assustar os defesas, sem deixar, no entanto, que as objectivas capturassem esses momentos de intenso terror. Fica a dúvida na mente do leitor…
Nasceu na Bósnia Herzegovina, mais propriamente em Belgrado, no já longínquo ano de 1966. Possuidor de uma estampa física macabra, de 1,84m por 82kg, era um avançado que pura e simplesmente massacrava as defensivas adversárias. Proveniente do Famalicão, clube irrepreensível na arte de abrir as portas e servir de trampolim para jovens jogadores à procura de sorte no relvado, caso de Tanta, Ben Hur ou mesmo Medane, foi no entanto ao serviço do Vitória de Guimarães que Dane alcançou a fama.
Era um ponta de lança da clássica escola balcânica, que nos proporcionou mitos como Darko Pancev, Dragan Lepinjica (conhecido entre nós simplesmente como Lepi), ou mais recentemente Savo Milosevic e Petar Krpan. Fortes e assassinos na cara do golo, com um sangue frio capaz de arrepiar o mais morto dos cadáveres, estes pontas de lança não periclitavam perante nada nem ninguém.
E quem melhor como exemplo do que Dane? Em qualquer imagem, quer estivesse a posar para a caderneta do campeonato, em chamas ou a cair de um precipício rumo ao beijo mortal do asfalto, ou mesmo se estivesse a evacuar um sólido colossal, o bósnio mantinha sempre a mesma expressão de profunda reflexão e marasmo.
Era isto que o diferenciava de outros avançados, quiçá mais dotados tecnicamente ou com maior velocidade, e por isso mais agradáveis aos olhos da torcida. Dane não brincava. Um Constantino ou um Nuno Gomes, ou mesmo um Chiquinho Conde, eram avançados de qualidade indiscutível, mas que falhavam uma significativa quota-parte das oportunidades de que dispunham. Dane não. Dane, Conan o Bárbaro da cidade berço, como ficou conhecido em alguns círculos fechados, podia não ser um grande goleador, mas raramente falhava uma oportunidade de que dispusesse para fazer o gosto ao pé.
Era, essencialmente, um “burro de carga”, mas de apenas 2 pernas, o que fazia do seu papel algo ainda mais notável: levava consigo os defesas, para que os seus companheiros, e principalmente a sua equipa, beneficiassem. Assim sendo, muitos dos nomes sonantes de hoje em dia devem a Dane muita da sua fama. Ícones dos relvados como Gilmar, Zahovic, Pedro Barbosa e Ziad, entre outros, beneficiaram e aprenderam com o possante avançado.
Trata-se novamente de um incomodativo caso de não valorização de um elemento fulcral para o funcionamento da táctica e sucesso do clube. Novo caso de 10+1, em que esse um unia os outros dez em volta da ratoeira táctica que encarnava. Dane era como que a árvore com bananas que atraía todos os macacos (leia-se defesas adversários), para que as outras arvores (leia-se companheiros de equipa) chegassem a bom porto (leia-se marcassem golo).
Apesar de o seu valor não ter sido devidamente reconhecido por grande parte da opinião pública, o Vitória não deixou de valorizar e agradecer o contributo de Dane para o conjunto, pelo que lhe foi atribuída diversas vezes a dorsal 10 do clube. Abandonou o Guimarães no final de 95/96, perante o pesar e as lágrimas daqueles que realmente apreciavam a qualidade de Kupresanin, para se dedicar a tempo inteiro ao seu hobby, jogar ao sisudo*.
*também conhecido como o jogo do "sério".
Lanço aqui apenas uma dúvida em relação a Dane. Imperturbável e sempre com o mesmo semblante, não há provas documentais de que o avançado jugoslavo tivesse dentes. No entanto, parece improvável que tenha ganho aquele corpanzil a comer papas e sopas. Será que Dane tinha uma trituradora em casa, para a qual encaminhava manadas e da qual extraía sumo de novilho, ou será que era possuidor de dentes postiços que não usava nos dias de jogo, de modo a assustar os defesas, sem deixar, no entanto, que as objectivas capturassem esses momentos de intenso terror. Fica a dúvida na mente do leitor…
3 comments:
Talvez o primeiro a ter a sua nacionalidade como primeiro nome, o Bósnio Dane. Agora temos o Grego Karagounis ou o antigo Azeri Kassoumov. É um fenómeno curioso que resulta do fraco conhecimento de nomes próprios, algo que qualquer jogador de CM/FM gosta de mostrar.
Em inglaterra, itália, frança (espanha nem tanto), enfim, na grande maioria dos campeonatos, os atletas mantêm uma certa compostura em termos de nomes. Ou seja, são conhecidos por nome próprio e apelido, por muito complexo que seja.
Petro Vierchowood, Matthew le Tissier, Eric Rabesandratana, só para citar 3 exemplos.
O fenómeno de encolhimento de nomes é algo muito próprio de Portugal (Vitinha, Ricardo, Manu), Brasil (Rivaldo, Nem, Eliel) e em certo ponto, até Espanha (diversos contrastes de Oli's com Carles Puyol's).
Os estrangeiros que chegam a esses campeonatos, são cedo diagnosticados com esse flagelo. O caso de Lepi é gritante. Dane teve a vida facilitada pois o seu nome já vinha cortado de nascença.
Se fosse mantido o Kupresanin de Dane, certamente que o prenome "Bósnio" seria desnecessário. Cheira-me a uma injustificada medida compensatória...
É mais uma manifestação do facilitismo, sendo que esse Kupresanin me apanhou desprevenido mas também não pretendo saber o primeiro nome de todos embora o verdadeiro saber não ocupe espaço e este "Kupre" (lá está...estou a cair no facilitismo) não vai cair no esquecimento.
Convém não esquecer que o próprio título do post leva a considerações várias sobre a adjectivação de jogadores de modo a parecerem nomes próprios. São disso casos paradigmáticos o sempre jovem Pepa, o veloz Dominguez e a revelação Edgar.
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