Sunday, April 1, 2007

Ovnis Futebolísticos: Alguns Fenómenos Inexplicáveis

Parte I: Desaparecido em combate

Sim, trata-se do título de um filme de culto, protagonizado pela acção em pessoa, Chuck Norris, cuja barba é feita de pura destruição. Aplicado ao futebol, falamos daqueles jogadores que estariam, à priori, destinados a grandes vôos mas que, subitamente, caíram como patos abatidos por um caçador que deixa a mulher carente, de madrugada, para ir largar chumbo.
Por vezes basta uma lesão na pior altura, um frango infeliz, um arroto na tromba do mister, ou ter um affair com a filha do presidente para um jogador cair em desgraça. Vou salientar um caso em particular, cuja verdadeira razão para o infortúnio desportivo desconheço. Pior. Nem me ralo.

Trata-se do drama de um menino bonito de Leiria, que arregalava os olhos da assistência cada vez que tinha a bola nos pés. Chegou à selecção sub-21, falou-se do interesse dos grandes e, subitamente, a terra parece que o engoliu. Pergunto eu e com certeza muitos dos leitores, que é feito de Bakero?
Extremo direito de grande rapidez, quer de pernas quer de execução, o homónimo do ex-capitão do barça era um jogador com um futuro aparentemente brilhante.
Assim sendo, após uma brilhante época na cidade do lis transferiu-se para o país vizinho, para alinhar pelo Sevilha. Acontece que os jovens, por vezes, perdem-se, terminando em tristes pacotes de leite. É certo e sabido que o vinho e as rameiras são mais baratas no país vizinho. A experiência correu mal, e Bakero voltou para Portugal, onde ainda jogou no Marítimo e no Braga, seguindo-se o Salgueiros e agora, o Bragança. Triste fado o deste extremo que chegou a fazer lembrar mitos como Vítor Vieira e Calila.



Parte II: One hit wonders

O seu nome é Zé. Nunca ninguém ouviu falar dele. Entra em campo a 15 minutos do final de uma partida que empatada em pleno Estádio da Luz. Na direita, finta dois defesas estafados, varia para o centro, tenta o remate, o contacto da chuteira com o esférico não é o adequado, propiciando ao mesmo um efeito raro que atraiçoa o guarda-redes, excessivamente confiante devido ao espesso bigode, que muito másculo o faz sentir. É golo. Zé está nas nuvens. Mas toda a gente sabe que as nuvens são água condensada, incapaz de suportar um ser humano. Zé cai durante 4 minutos, apenas para terminar esborrachado numa estrada perto de Sines.
A história de Zé serve de exemplo para muitos atletas que subiram alto sem pára-quedas. Exemplos seguem-se.


Sabry

Em pleno jogo da taça UEFA, o Benfica defrontava o PAOK, e a defesa encarnava entrava em pânico quando a bola chegava aos pés de um senhor. De gola subida e conduzindo a bola junto ao pé esquerdo, o internacional egípcio Sabry era um jogador imprevisível, perigosíssimo e com duas gengivas, cada uma com um basto número de dentes.
Passada a eliminatória, o clube da Luz não hesitou e contratou o estratega. Tal como um canal de televisão a comprar filmes, também o benfica comprou em pacote. Com o fabuloso número 10, veio o muito discutível trinco/central Machairidis.
Há jogadores que sofrem de problemas de adaptação. O mínimo que se pode dizer de Sabry é que sofre do inverso, ou seja, de problemas de desadaptação. O processo tornou-se tradição: Chegava como titular ao clube, fazia furor, apenas para começar a perder a chama até o acabarmos por ver sentado no banco de suplentes. Começou em grande, no Benfica. Desceu uns degraus, para jogar no Marítimo, e acabou na Amadora, onde já nem é titular.
Uma queda gradual, mas nem por isso menos dolorosa.


Formoso

Um pé esquerdo que é um mimo. É a primeira coisa que vem à cabeça de grande parte dos adeptos de futebol, quando pensam em António José Faria Formoso. Pode não ser exactamente a palavra mimo. Pode ser a palavra maravilhoso, ou quase único, ou mesmo possuídor de cinco dedos e respectivas unhas. No entanto o povo é unânime quando classifica a perna canhota de Formoso como uma das mais poderosas que se passearam nos nossos relvados nos últimos anos.
Pode-se mesmo chegar ao ponto de comparar Formoso no lado esquerdo do Gil Vicente com Beckham no lado direito do Manchester. Dos lados opostos a mesma comparação poderia ser feita, com Giggs e Carlitos.
Proveniente do Infesta, chegou a Barcelos um perfeito desconhecido. No entanto, deu um pontapé rumo ao estrelato, tendo sido anunciada regularmente a sua transferência para a Luz. Nada disso aconteceu. Ao invés seguiu para Braga para, em seguida, a terra se abrir e o engolir. Nunca mais ninguém o viu nos grandes palcos do nosso futebol.
Triste, mas assim é o futebol. Acordas para tomar o pequeno almoço e dás por ti em pleno crepúsculo. Pior! Os cereais estão moles.
Na retina fica um lance fabuloso (de entre os muitos golos de belo efeito que marcou): Formoso marca, de livre directo e de uma distância considerável, um fabuloso golo ao ângulo. No entanto, o árbitro ordena a repetição. Impassível, Formoso volta a colocar a bola exactamente no mesmo local, para de seguida a rematar exactamente do mesmo modo, vendo-a entrar exactamente no mesmo local onde havia entrado há instantes. Pura e simplesmente magistral!


Ivo Damas

A história da ascensão e queda deste jovem extremo conta-se numa dúzia de linhas.
Num atípico jogo para a Taça de Portugal, o irreverente Ivo marca 3 golos ao Futebol Clube do Porto, que no entanto foram insuficientes para bater os azuis e brancos, que triunfaram por 4-3. Ivo poderia afirmar que trocaria o hat-trick pela vitória do seu Maia, mas provavelmente estaria a mentir. Essa exibição levou-o para Alvalade, com um contrato de 7 anos.
Gostaria agora de continuar a narrar a história de Damas, que no seguimento lógico do que vinha a relatar, seria um belo conto de um jovem que vinga num grande do nosso futebol, é feliz e casa com uma modelo de tetas magníficas. No entanto, a história praticamente acaba aqui, pois nunca mais se ouviu falar no jogador. Não vou dizer que não desse um filme, pois hoje em dia quase tudo dá para fazer um filme. No entanto, posso dizer que não dava um grande filme. Talvez uma curta metragem.


Marcos

Chegou a Portugal aos 20 anos, proveniente das divisões distritais brasileiras, para ajudar o Rio Ave a subir para a 1ª divisão. Objectivo cumprido com Marcos a afirmar-se como um dos esteios da defesa. Os olheiros do clube não só haviam descoberto um possante defesa, mas também um goleador. “Defesa goleador? É mais provável encontrar um corsário sapateante na Coreia do sul!”, dirão muitos leitores. No entanto, na sua terceira época em Vila do Conde, Marcos marcou 9 golos. Número impressionante para um central, pelo menos foi o que acharam os responsáveis do PSV, que o contrataram. Mas a Holanda é fria e a veia goleadora de Marcos congelou. É tão fria que congelou para sempre.
Foi então emprestado ao Sporting, onde também não conseguiu confirmar as boas indicações dadas no Rio Ave. A queda em desgraça culminou, ironicamente, com a maior manifestação de amor pelo futebol alguma vez testemunhada pelos adeptos leoninos: em pleno jogo da taça UEFA, frente aos noruegueses do Viking, Marcos embrulhou-se, inexplicavelmente, sozinho e sem protecção com o esférico em plena grande área, dando origem ao penalti do 3-0 que confirmaria a escandalosa eliminação do Sporting.

Nuno Afonso, O Exilado Político

Também conhecido como o Gorbatchev português, dada a nódoa de vinho na testa que tem em comum com o antigo presidente russo, Nuno Afonso é mais um saltimbanco do futebol nacional.
Tendo começado como promessa benfiquista, cedo as expectativas se tornaram num fardo demasiado pesado nos ombros do ainda “verde” central. No entanto, o internacional sub-21 não se deixou abater. Pelo contrário.
Ergueu a cabeça e apontou a ínsula epidermal para outros horizontes clubísticos. E não foram poucos. Belenenses, Campomaiorense, Salamanca, Vitória Futebol Clube, Paços de Ferreira, Marítimo e Aves foram os mais renomados.
Pulgas anais ou exílio político, a dúvida fica. A afirmação é polémica, mas numa altura em que a Rússia se tardava a encontrar, não era politicamente correcto contar com um sózia do implementador da perestroika nas fileiras.
Ficam na memória, no entanto, as duplas fabulosas que formou. Com Beto em Campomaior, com José Rui em Setúbal ou com Alex Bach na Madeira, as defesas ficavam tão sólidas quanto qualquer política fiscal soviética. Para quem não está dentro da história da ex-URSS, imagine a densidade dum sumo de patê. Era assim de sólida.