Os treinadores portugueses, na sua grande maioria, adoram não perder. Assim sendo, os defesas são os seus meninos bonitos e o contra ataque a sua estratégia preferida. Uma equipa formada por um guarda-redes, cinco defesas, quatro médios e um avançado assenta que nem uma luva nesse sistema. Se os médios se desdobrarem bem e tiverem fôlego para acompanharem o avançado, bestial. Senão, paciência. Chuta-se a bola para a frente e o avançado que corra atrás dela. Neste último caso, convém que o avançado não seja um Paulo Alves. O efeito poste-de-electricidade não funciona bem aqui. Um Dino já seria mais indicado, pois não só é forte como também veloz. Agora, um rato atómico é que era… É mais veloz que todos, chegando à bola antes do guarda-redes, depois de ter passado debaixo de dois centrais de 1,90 cm.
Estou a falar daqueles jogadores que tiveram que decidir entre uma carreira no futebol ou no atletismo. Não em meio-fundo, mas nos 100 metros. Se for nos 110 metros com barreira, melhor, pois não só consegue passar por baixo das pernas dos defesas, como consegue saltar por cima dos mesmos.
Trata-se de uma táctica com duplo efeito: não só se possui um avançado muito rápido para bem praticar a arte do contra ataque, como o próprio facto do jogador ser pequeno deixa os defesas adversários com uma falsa sensação de segurança, pois aquele pequeno rapazote não será com certeza adversário à altura do possante defesa. Nada mais falso... a pequena dimensão de um Gremlin não o torna menos diabólico. A mesma teoria se aplica a estes velozes atacantes.
RATOEIRA TÁCTICA NÚMERO 6: O “EFEITO RATO ATÓMICO”
Em tácticas que prezam a solidez defensiva, descurando quase por completo o ataque, é bastante mais eficiente usar um avançado rápido que chegue às bolas aliviadas antes dos defesas, do que um alto e lento avançado que apenas servirá para perseguir os defesas e tapar linhas de passe, não garantindo posse de bola.
São jogadores com os quais não é recomendado jogar ao
1-2-3 macaquinho do chinês a dinheiro. Dito isto, passo a apresentar alguns dos mais famosos intérpretes desta “RT”:
Rosário
O antigo jogador do Torreense era um avançado extremamente irreverente e igualmente minorca.
Nunca chegou a representar um grande, apesar do propalado interesse na sua contratação, mais especificamente através das palavras de Sousa Cintra, que quando questionado sobre o possível interesse do Sporting em Romário, respondeu categoricamente que se trataria seguramente de um erro ortográfico, pois o Sporting estava interessado era no Rosário!
E qualquer elogio que eu escreva agora tornar-se-á obrigatoriamente redundante perante o mal-entendido descrito acima.
Fua
Consultando um dicionário, obtemos que “Fu” significa «exclamação designativa de nojo ou desprezo».
Seguindo uma lógica (não sei bem qual será), temos que Fua será o mesmo, versão feminina.
Isto leva-nos onde? Leva-nos à única conclusão possível de que a alcunha de Fernando José vem das sucessivas vezes em que se ouvia das bancadas o escárnio das esposas dos defesas adversários, enquanto o velocíssimo extremo leiriense dilacerava os cônjugues, deixando-lhes os rins espalhados pelo relvado.
Perante tal lógica renego à necessidade de apresentar provas ou outros argumentos.
Com 160 centímetros, Fua era seguramente dos mais pequenos jogadores do campeonato, sendo confundido muitas vezes com uma mera criança. Isto facilitava-lhe a vida: ninguém quer magoar uma criança. Nem um anão. Ficaria mal visto. Quem diz magoar fisicamente, diz magoar emocionalmente, pelo que lhe roubar a bola dos pés estava a priori fora de questão.
Fez também parte daquela maravilhosa equipa leiriense que parecia saída directamente de um dispensa em Chernobyl.
Forbs
O que dizer desta gazela africana que passou por grandes clubes como o Sporting,
o Boavista e o Braga? Muito, certamente. Relativamente grande para um extremo veloz (1,76 m), era um jogador temível, quando em forma. Pena que isso não fosse durante grande parte da época. Com 69 quilos, era um jogador que, mal embalasse, muito dificilmente seria alcançado.
No futebol português, em que os defesas se assemelham a girafas (altas mas lentas) e hipopótamos (grandes mas lentos, com grandes bocarras sempre abertas em direcção ao trio de arbitragem – sim, trio, pois aquele 4º arbitro nunca me convenceu…), José Manuel Forbs era como que um gnu no meio da savana.
Perito nas deambulações da linha em direcção ao centro do terreno, não perdia uma hipótese para testar o remate, que saía invariavelmente enrolado.
KrpanO carequinha vinha do mundial de 98, onde representou a fabulosa Croácia de Suker
(seu sózia futebolístico, mas sem cabelo), depois de uma época em que se havia sagrado melhor marcador do campeonato croata.
Infelizmente, no Sporting, não fez grande furor. Muito rápido, sem dúvida, mas com quantidade equivalente em falta de jeito.
Em Leiria tornou-se num novo jogador, um míssil apontado para as balizas contrárias, mas nunca mais confirmou os dotes de goleador que o fizeram outrora um assassino futebolístico a sangue frio.
Provavelmente dos mais altos intérpretes da rato-atomicidade, Petar apresentava-se com 178 centímetros, mas curvava-se como ninguém de modo a cortar o vento e ganhar segundos extra. O seu cabelo, ou a ausência do mesmo, também era um bom factor para coleccionar velocidade, tal era a sua aerodinâmica.
HelcinhoQue adepto do futebol de ataque não recorda com nostalgia as tardes solarengas no São Luís,
em que o extremo brasileiro pegava na bola, corria que nem um salmão em direcção ao local da desova, para assistir os avançados da equipa com centros aproximadamente milimétricos? Tanto Djukic como Hassan devem muitos golos ao reguila brasileiro.
Proveniente do Paços de Ferreira (onde também alimentou a gula goleadora de Rudi e Jussié, naquela equipa que contava com a famosa dupla de centrais Chico Faria – Sérgio Cruz), Hélcio Conegunres Ferreira manteve-se à tona d’água enquanto o grémio da capital do móvel desceu de divisão.
Com 1,74 metros por 72 quilos, Helcinho não era o típico rato-atómico. A sua fisionomia tornava-o mais parecido com uma ratazana-atómica.