Sunday, May 20, 2007

Apresentações? Não, Obrigado!

Nem tudo é estranho e circense no futebol nacional, diz o homem-bala. Pérolas. 99% das vezes o mister corta-se e perde o polegar ao tentar abrir a ostra. 1% das vezes aparece uma esfera tão reluzente quanto o cucuruto de Caccioli. Falo daqueles jogadores fabulosos, que por uma razão ou por outra, ou ainda por outra, nunca chegaram a vestir a camisola de um clube grande, mas que no entanto são sobejamente conhecidos e não necessitam de apresentações. Excepto Miranda, esse fantasista que chegou a equipar de águia ao peito, mas por breves e saudosos momentos. Para ele.

Quero então destacar alguns desses mitos do nosso futebol, como que dizendo: “Sim senhor, eu vi-te, nós vimos-te, todos te viram. Menos os olheiros dos grandes… pensa assim: pelo menos foste titular no Beira-Mar, algo que nem o grande Piguita conseguiu!”

Caccioli

Nos relvados nacionais, o nome Milton Caccioli é sinónimo de magia. Não de ilusionismo, de magia. Possuidor de uma visão de jogo global aliada a um Q.I. futebolístico digno de um predestinado, tudo condimentado com uma pitada da típica irreverência do futebol brasileiro, fizeram do número 10 um dos maiores estrategas dos relvados nacionais da década de 90.
Os seus passes de morte, juntamente com o seu remate de longa distância que tinha tanto de espontâneo quanto de venenoso, faziam de Caccioli uma ameaça constante. Quem não se lembra dos extraordinários golos que Milton marcava através de potentes remates do meio da rua?
Tendo jogado também em Braga (inicialmente) e em Faro (posteriormente), foi em Barcelos que “abriu o livro”. Nas épocas em que serviu o Gil Vicente, o “careca”, como era amistosamente apelidado, tornou-se num elemento imprescindível para a estratégia do mister. Pode-se mesmo afirmar que toda a estratégia dos “galos” rodava em torno do playmaker brasileiro.

Em homenagem ao jogador que foi e ao que contribuiu para o desenvolvimento do nosso futebol, decidi alterar as líricas letras da cantiga de intervenção de Paulo de Carvalho, de “os meninos à volta da fogueira” para “os galos à volta de Caccioli”. O nome adapta-se bem à antiga táctica gilista, e será para sempre recordado como a Ode a Caccioli.


Vado

Provavelmente o único jogador que, sem ter vestido a camisola de um dos grandes do nosso futebol, chegou a ser o número 10 da equipa das quinas. Esse foi certamente o ponto mais altivo de uma grande carreira, teve lugar no torneio indoor de Toronto, em 1995.
Osvaldo começou a carreira em Portimão, tendo mesmo atingido a sua primeira internacionalização em 1989, numa derrota por 4-0 contra o Brasil. Vou arriscar aqui ao dizer isto, mas é capaz de não ter agradado ao seleccionador, dado que só voltaria a ser convocado para o torneio atrás referido.
Transferiu-se para o Marítimo, onde municiou exemplarmente aquela grande dupla constituída por Paulo Alves e Alex Bunbury. Tal como Caccioli, também Vado era o motor da equipa. Ele fazia funcionar a táctica de Autuori, comandando um meio campo que contava também com Zeca e Luís Gustavo.
Pelo estado do seu cabelo, despenteado e maltratado, posso aqui certamente concluir que foi um bom intérprete do “efeito-microfone” . Ou talvez seja só das violentas rajadas de vento que assolavam os Barreiros.
Depois de muitos anos na Madeira, seguiu para Braga. No entanto o estádio 1º de Maio, mais resguardado das ventosidades, não permitiu que o cabelo e o futebol de Vado continuasse rebelde e imprevisível.
Apesar de possuir um traquejo físico aquém de pouco impressionante (contava com uns meros 167 centímetros), o fantasista, natural de Angola, tinha dentro de si uma dose inata de talento que fez dele um dos mais virtuosos médios ofensivos do nosso campeonato.


Miranda

O que há a dizer sobre Miranda, senão o facto da quantidade de cabelo estar inversamente relacionada ao talento futebolístico. Nascido e criado no clube da Póvoa, era um polivalente médio que fez história no principal escalão nacional.
Após 5 épocas ao serviço do Varzim, o salto. Abriram-se-lhe as portas da Luz, só que Miranda ficou encadeado. Seguiram-se outras 5 épocas que lhe deram a fama não só de extraordinário líder a partir do centro do terreno, mas também de um dos maiores saltimbancos do nosso futebol. Chaves, Estrela, Beira-Mar, Paços e Espinho foram as paragens seguintes, até regressar a casa, ao Varzim.
Em 90/91, vestido com as cores do Estrela da Amadora, teve aquela que foi a sua melhor época na 1ª divisão: 37 jogos e 7 golos. Contracenou em grandes palcos do nosso futebol com magos do passado como Álvaro “6 dedos” Magalhães ou Ricky, e com promessas futuras como Dimas, Abel Xavier e Paulo Bento. Com este último e com o eterno capitão Rebelo (nessa altura subido no relvado a jogar a trinco) chegou mesmo a formar um fabuloso tridente no miolo do terreno.

Nogueira

Se o arquétipo de defesa central do futebol português é um central alto e forte, impiedoso na marcação e com um sentido posicional acima da média, então Nogueira não se enquadra no modelo.
Internacional português por 7 ocasiões (entre 91 e 94, tendo marcado 2 golos), era um verdadeiro especialista em entradas “à queima”, daí a razão para a sua barba, capaz de acender qualquer fósforo.
Como seria de esperar para um futebolista com 1,90 metros, Nogueira era algo duro de rins. Compensava, no entanto, com um impecável jogo aéreo. Rezam as crónicas que era, também, um jogador de uma disciplina táctica exímia.
Juntamente com Pedro Barny, e ladeados por Paulo Sousa e Caetano, defenderam sempre acerrimamente a baliza à guarda do gadelhudo Alfredo. Transmitiu toda a sua sabedoria a Rui Bento, seu pupilo e sucessor na defensiva axadrezada.

No comments: