Monday, May 21, 2007

A triste sina de ser Guarda-Redes: Top 10

Top 10 dos Guarda-Redes da década de 90:

Este top é tão oficial quanto a feira da ladra. No entanto, não quer dizer que não exista ou não seja útil, logo vamos a isso. Apreciem a contagem decrescente, do 10 até ao 1, passando por outros 8 jogadores no meio.

Para eleger estes 10 mitos das redes, usámos uma fórmula econométrica muitíssimo complicada e recorremos a uma base de dados vastíssima com estatísticas completíssimas que iam desde saídas por jogo a número de pitons na chuteira.
Acabámos por achar um rácio que eficazmente traduz a qualidade do guarda-redes e que também é de fácil compreensão para o comum adepto que não gosta de tratamento e análise de dados.


Rácio de Qualidade do Guarda-redes:

Defesas da tarde / jogos na 1ª divisão



Os “jogos na 1ª divisão” penso que se explicam sozinhos. As “defesas da tarde” é um conceito algo vago e incerto, principalmente porque depende da opinião dos comentadores e observadores da partida. Logo, qual a defesa da tarde poderá ser discutível. Aliás, muitas vezes há uma grande defesa logo ao minuto 2, mas o comentador não quer cair no potencial erro de lhe chamar defesa da tarde, pois a probabilidade de haver uma defesa melhor nos restantes 88 minutos é elevadíssima. Assim sendo, uma defesa tem maior possibilidade de ser a da tarde, quando mais adiantado estiver o jogo. No entanto, a partir do minuto 80 o comentador começa a ficar apertado de tempo para eleger a defesa da tarde, e pode-se precipitar e eleger como a melhor defesa do jogo uma estirada perfeitamente vulgar (para evitar o crime de deixar a partida terminar sem eleger a defesa da tarde).

São erros do ofício com os quais temos que viver, logo vamos proceder à apresentação do top 10:


10) Acácio

O aborígene, como era carinhosamente tratado pelas gentes de Aveiro, esteve presente no mundial de 90, em Itália, onde foi suplente de Taffarel. Símbolo do Vasco da Gama, veio acabar a carreira em Portugal, ingressando no Tirsense e depois no Beira Mar, onde ganhou maior fama.
Com 94kg, rebolava rumo à bola como poucos. Formou um tridente medonho (para os adversários, como é óbvio), com Dinis e Eliseu, a dupla de centrais da equipa de Aveiro, insuficiente para manter o clube no principal divisão nacional, apesar de ter acabado a época como treinador-jogador. A principal razão para a despromoção prendeu-se provavelmente com as atrofiadas exibições fora de portas, onde lograram apenas uma vitória e um empate.
Fica, no entanto, o registo de mais um mundialista a pisar o relvado do Mário Duarte, anos depois do perfume do futebol internacional ter pairado no ar aveirense através da irreverência egípcia de Abdel Ghany


9) Neno

Adelino Augusto ou simplesmente Neno, como era conhecido nas lides do futebol, era um guarda redes felino e de reflexos fabulosos, característica marcante nos atletas africanos.
Um magnata na arte de sair mal dos postes, compensava com uma presença imponente entre os dois mastros.
Também conhecido como o Júlio Iglésias português, este cabo verdiano de cabelo encaracolado, solto e oleoso discutiu durante épocas a fio a titularidade na baliza do Benfica com Silvino.
No final, saiu vencedor, pois nas quatro épocas em que ambos equiparam de águia ao peito, Adelino jogou 94 partidas, contra as 47 do seu amigo e rival (que no entanto vestiu a camisola do Benfica por 184 ocasiões).
Neno deixou saudades, um álbum musical, e toda a boa disposição de quem tornava imprevisível qualquer directo televisivo a partir dos balneários.


8) Best

Por vezes, deitado na minha cama, começo a pensar em todas as injustiças do mundo, e há uma que tanto tem de recorrente quanto de revoltante. Porquê? Porque será que Best sempre foi o suplente crónico por todos os clubes por onde passou na 1ª divisão?
A sua alcunha certamente que não lhe foi dada aleatoriamente. Tratou-se de um intenso e completíssimo estudo sobre guarda-redes feito por cientistas e analistas britânicos. Chegaram à conclusão que Artur Paulo da Silva era o Best, que muito justamente tomou essa deixa e elegeu novo cognome futebolístico.
Muitas pessoas não familiarizadas com a língua inglesa podem julgar que Best é simplesmente uma abreviatura de Bestial. Nada mais falso e injusto para com o jogador em questão. Best traduz-se para português como Melhor!
Assim sendo, e partindo do princípio que o treinador do Leça, mister Festas, fala inglês, vamos fazer um pequeno exercício mental de lógica futebolística.
Olhando para a folha de jogadores disponíveis, o mister tem à sua disposição um Best e um Vladan… qual deverá escolher? Um treinador racional escolheria a melhor opção. No entanto, o treinador nacional não é necessariamente racional, e muitas vezes maior é sinónimo de melhor. Ora Vladan apresentava-se aos sócios do alto do seu metro e noventa e sete. A fatalidade para Best foi o facto de ser um pouco mais curto de pernas…
Deixando de lado as irracionalidades futebolísticas e homenageando quem realmente merece, Best serás sempre o melhor, mesmo que seja só no papel, e com um dicionário inglês-português ao lado!


7) Jorge Silva

Apesar de apenas ter saltado para o estrelato no final da década de 90, trata-se de um guarda-redes que já andava no mundo do futebol há muito tempo. Foi campeão pelo Porto, tendo transitado para Paranhos, onde aproveitou a saída de Pedro Espinha para agarrar a titularidade com unhas e dentes. A sua principal arma é a ausência de beleza física. A sua face assustadora, juntamente com a tremenda cabeleira, tornam-no num possuidor do temível “Efeito Medusa*” .
Muitos jogadores ficaram petrificados após se terem aventurado no um para um com este ágil guarda-redes.
Indiscutível do Salgueiros desde a época de 98/99, foi posteriormente exilado na longínqua ilha dos Açores, à espera que o seu Ulisses aparecesse…

*Medusa, para quem não sabe, era a senhora com cabelos de serpente que transformava todas as pessoas que lhe olhavam nos olhos em estátuas de pedra. Posteriormente, foi assassinada a sangue frio pelo patife do Ulisses. Este efeito tem secção própria.



6) Zivanovic

Goran Zivanovic, sólido guarda-redes e símbolo do União da Madeira, clube onde liderou com base no exemplo toda a comunidade jugoslava que equipou a amarelo em meados dos anos 90. Jogadores como Dragan, Jovo, Lepi, Simic ou mesmo Jokanovic não só evoluíram futebolisticamente, mas também do ponto de vista humano, sob a sombra do velho capitão. De cabelo castanho claro, encaracolado e furiosamente despenteado, cumpriu meia década como titular absoluto da baliza unionista.
Apesar dos 54 golos encaixados e da descida de divisão, na já longínqua época de 94/95, Goran, na altura contando 35 primaveras, foi titular absoluto e pilar mais firme de uma defesa assolada pelo drama dos defesas mansos , ou não contasse nas faixas laterais defensivas com o sempre sorridente Milton Mendes e Nelinho (comentário a este nome seria redundante).
Fica para a história como sinónimo de guarda-redes do União. Se acha que esta afirmação é um exagero, vamos a outra agradável interactividade livro-leitor: tente-se lembrar de um outro guarda-redes com semelhante impacto no clube, cidade e arquipélago, como Zivanovic. Bem me parecia.


5) Rufai

Haverá palavras para descrever um dos melhores guardiões que alguma vez passou pelo futebol luso? Claro que sim. Dizia-se que era um príncipe no seu país, e que havia abdicado do trono para se dedicar à sua grande paixão, a manicure. Acabou por não entrar no curso e optou pelo futebol. Em boa hora, dirão os adeptos do Farense, pois tratou-se de um dos melhores valores que alguma vez defenderam as redes do São Luís.
Internacional pelo seu país, Peter Rufai viveu os melhores anos da sua carreira no Algarve. Foi peça fundamental na melhor época do clube, em 94/95, em que alcançaram o quinto posto e a qualificação para a Europa, onde caíram perante o poderio do Lyon de Olmeta, Giuly e Maurice.
Após três épocas de titularidade absoluta no Farense, mudou-se para a Galiza, onde assinou pelo Deportivo La Coruña. Frente à tremenda concorrência de Songo’o e Kouba, não foi feliz. Chegou, no entanto, a jogar pela sua selecção nos mundiais de 1994, nos Estados Unidos, e 1998, em França.
Ficarão para sempre guardadas na memória dos adeptos algarvios as estiradas do príncipe africano, e a maneira como o sol era reflectido pela sua cara esburacada.


4) Ewerton
Ewerton Machado Joenisch. Um nome que, sem ponta de dúvida, provoca lágrimas a muitos sócios e simpatizantes do Marítimo, fazendo-os relembrar as solarengas tardes que passavam a olhar para o boné do seu mítico número 1.
Um patrão por natureza, este brasileiro chegou à Madeira na época de 87-88, contando nessa altura com uns já respeitáveis 30 anos de idade. Olhando para as épocas que equipou de verde rubro, ninguém diria que chegou tão tarde à Madeira. Passeando-se épocas a fio pelos relvados nacionais com o seu boné e o seu dente frontal de raíz morta, Ewerton tornou-se um dos maiores mitos de sempre do clube que serviu até aos 37 anos, e sem dúvida o seu mais emblemático guarda-redes.
Despediu-se quase em beleza do futebol português, através de uma batalha épica travada com Iordanov em pleno Estádio Nacional. Jogava-se a final da Taça, e Ewerton queria terminar a carreira com um troféu. Quem viu esse jogo ficou abismado com as fabulosas defesas do veterano guardião, rejuvenescido para um dos mais importantes jogos da carreira. Infelizmente a sua equipa acabou por baquear, perdendo por 2-0, mas nada nem isso conseguiu encobrir esse portento de exibição.


3) Vladan

Se Best está no top 10, então o homem que inexplicavelmente lhe sorrupiou a titularidade também tem que estar. Este gigante sérvio dispunha de uma aprimorada visão de jogo, do alto dos seus 1,97 metros, qual água a voar nos céus. A presa, a bola. A arma, a tremenda elasticidade e reflexos felinos.
Imponente e assustador, Vladan metia qualquer adversário que o ousasse enfrentar no um para um em estado de pânico. Chegou-se a ponderar se ele comeria um adversário, se as normas da liga o permitissem.
Adepto de ketchup como era, que não consegue imaginar Vladan sentado numa esplanada em Leça da Palmeira ao lado dos seus colegas Alfaia (o resistente timorense) e Serifo (a gazela guineense), a contemplar-se com a deliciosa dupla atacante da briosa: um Akwá no pão e um Febras no prato!
Para a memória dos incondicionais fãs do futebol espectáculo, apenas nos resta recordar as fabulosas estiradas de Vladan Stojkovic, a rechaçar a bola para canto após fabuloso remate de Kassumov, com a mesma a acabar por embater naquele belíssimo pavilhão gimnodesportivo por detrás de um dos topos do campo.


2) Baston

O Desportivo de Chaves tem vindo a criar uma reputação de equipa sólida defensivamente, comandada por um guarda-redes mãos-de-ferro. Nomes sonantes como Zé Nuno Amaro, Poleksic, Arteaga, ou mesmo Luís Vasco vestiram a camisola transmontana, mas no entanto nada mais fizeram do que tentar - em vão - perpetuar uma tradição que havia surgido na longínqua época de 94/95, data em que um desconhecido espanhol surgiu no Municipal de Chaves de malas e bagagens, para deixar na cidade minhota muito mais que isso: um legado.
Estavamos no início da época e o mister António Jesus, ele próprio um antigo guardião, denotou uma lacuna no plantel: faltava um guarda-redes de presença imponente entre os postes. Orlando não tinha nome no futebol primo-divisionário, e Silvino não conseguia produzir a imponência necessária do alto do seu metro e setenta e pouco. Os 22 golos sofridos em 11 jogos disputados acabaram, infelizmente, por dar razão ao treinador, que antes de sofrer a chicotada, ainda contrata um reforço: Baston.
Desconhecido, com pouco cabelo, bigode, assemelhava-se mais com um talhante do que com um guarda-redes. No entanto, as dúvidas em relação à sua valia cedo se dissiparam, e os cépticos largaram as pedras em direcção ao solo, tendo-se formado uma unanimidade que ficou conhecida como “la irmandad de Baston”.
Durante algumas jornadas passeou a sua graciosidade pelos relvados nacionais, até que o desastre sucedeu. Numa fria noite no Municipal de Chaves, o Chaves acabara de empatar o jogo contra o Sporting, fruto de um golo do inevitável Edinho. Tudo parecia encaminhado para a reviravolta. No entanto estava guardada uma surpresa para o fatídico minuto 59: a bola é atrasada para Baston, que é pressionado por Iordanov. Ao tentar fintar o astuto búlgaro, perde a bola, que sobra para Juskowiak fazer o 2-1. O Sporting vence, o Chaves, e principalmente o seu guardião, perdem. Baston tinha acabado de hipotecar todas as suas hipóteses de uma brilhante carreira em Portugal. Nesta terra em que é tão habitual a rápida passagem de bestial a besta, nenhum caso é mais dramático do que o deste nuestro hermano.
Para muitos caíste no esquecimento, mas certamente que ainda há adeptos para os quais aquele lance, que foi para ti como a bomba atómica para Hiroshima, não apaga as belíssimas memórias anteriores que tínhamos de ti.
Tristemente, a passagem de Baston pelo nosso futebol foi tão rápida que existem poucos ou nenhuns registos fotográficos. No entanto a interactividade desta obra não pára, e para vermos Baston podemos olhar para Best (o mais parecido) com os olhos semi-cerrados, imitando a voz de um espanhol.


1) Vital

Trata-se de uma justíssima homenagem, do ponto de vista quantidade/qualidade. Aquele que começou como uma esperança leonina, fez jus à sua estatura e acabou por não subir muito na carreira de verde e branco. Azar para Vital, sorte para os clubes que contaram com os seus serviços. O auge da sua carreira foi atingido, porventura, no Gil Vicente.
Em Barcelos ficará para sempre conhecido como o Yashine do Adelino Ribeiro Novo. Fez as delícias da torcida a ponto de, para muitos adeptos, ter passado o Galo para segundo plano como símbolo da cidade.
No papel, Jorge Maria podia ser quase anão. Em campo, um autêntico gigante. Os seus 172 centímetros eram muitas vezes assunto de gozo por parte dos adversários. No entanto, ao depararem-se cara a cara com Vital, cedo as compulsivas gargalhadas davam lugar a uma choradeira desalmada.
Deixou saudades no clube… tantas que o Gil procurou em Paulo Jorge um clone, mas no entanto nada há como o original…
Pequeno Vital, és o grande número 1!



O Melhor Do Mundo

Se há coisa que as estatísticas não fazem é mentir. Podem chamá-las de frias, incoerentes, ou mesmo fruto de uma reacção de cabeça quente, mas nunca mentirosas.
Assim sendo, e dadas as evidências estatísticas, resta-nos eleger aqui e agora o guarda-redes internacional jugoslavo Tomislav Ivkovic, que vestiu em Portugal as camisolas de Sporting, Estoril, Setúbal e Belenenses, como o melhor guarda-redes do mundo a defender penaltis do Maradona.



PRÉMIO DE MELHOR DO MUNDO A DEFENDER PENALTIS DO MARADONA:

Tomislav Ivkovic, pela Jugoslávia contra a Argentina e pelo Sporting contra o Nápoles.




5 comments:

Anonymous said...

Excelente post, fartei-me de rir e de relembrar o passado, quero contudo deixar que o Ivkovic tambem foi guarda-redes do Estrela Amadora.

Anonymous said...

O Zivanovic foi dos melhores guarda redes q vi jogar no União da bola

http://cfuniaomadeira.queroumforum.com/index.php

Tiago Rebelo de Andrade said...

Para mim, um dos GR fantásticos Redes era Philip De Whild que cobrava os seus magníficos pontapés de baliza e caía para trás desamparado

Ricardo said...

Faltam aqui alguns, na categoria dos injustiçados e eternos suplentes...

Ricardo said...

Mas, excelente post.