No futebol português é apanágio usar-se apenas um ponta de lança. É quase como que uma lei instituída na mentalidade dos treinadores. Mas a lógica prossegue. Outra lei instituída na nossa sociedade é a máxima quanto mais, melhor! Junta-se as duas e tem-se o corolário do ponta-de-lança em Portugal:
Corolário do ponta-de-lança em Portugal:
«Já que só posso utilizar um ponta de lança, quanto maior, melhor.»
E esta é a base ideológica do efeito poste-de-electricidade, que conheceu o seu apogeu na figura de José Torres e, mais recentemente, no gigante checo Jan Koller. Só que nem sempre se arranja um jogador móvel e com bons pés, de dois metros de altura. E os treinadores, quais músicos de jazz, improvisam! Trata-se de uma das mais famosas “RT”, que tem presença assídua no caderninho de tácticas de qualquer mister do campeonato nacional.
Penso que será óbvio, mas nunca é de mais referir que as “RT” são um assunto off the record, e como tal trata-se de um anexo que só consta nos dossiers de estrategias dos treinadores que dão “mais algum” por debaixo da mesa…
Convém, por último, destacar que quando se diz quanto maior, melhor, não se está a referir única e exclusivamente à longitude vertical, mas também à dimensão horizontal. Jogadores como Brian Deane ou mesmo Elpídeo Silva, apesar de não serem especialmente altos (o caso de Silva é o mais flagrante…), compensavam por serem maiores para os lados do que para cima!
Penso que será óbvio, mas nunca é de mais referir que as “RT” são um assunto off the record, e como tal trata-se de um anexo que só consta nos dossiers de estrategias dos treinadores que dão “mais algum” por debaixo da mesa…
Convém, por último, destacar que quando se diz quanto maior, melhor, não se está a referir única e exclusivamente à longitude vertical, mas também à dimensão horizontal. Jogadores como Brian Deane ou mesmo Elpídeo Silva, apesar de não serem especialmente altos (o caso de Silva é o mais flagrante…), compensavam por serem maiores para os lados do que para cima!
RATOEIRA TÁCTICA NÚMERO 4: O “EFEITO POSTE DE ELECTRICIDADE”
Inserir na táctica um grande avançado que leve os defesas atrás, qual poste de electricidade cheio de pombos. Isto dará o espaço necessário às penetrações dos companheiros de equipa.
Assim sendo, temos exemplos bestiais na nossa montra de prémios. Roberto Matute, o exemplo dado na introdução, é claramente uma “vítima” deste efeito. Mas muitos mais existem que merecem igualmente ser destacados. São uma classe em perigo de extinção, uns altruístas que importa preservar.
Vinha
O Empire State Building de Paranhos. Digno sucessor de grandes nomes nacionais, como José Águas, Ricky ou Rudi, Vinha era um jogador cujas estatísticas não conseguem revelar a importância que ele tinha na manobra ofensiva da equipa.
Com uma carreira construída no norte, maioritariamente no Vidal Pinheiro, com uma breve mas merecida passagem pelas Antas, o adelgaçado gigante, apesar de não denotar a velocidade nem a agilidade de alguns dos seus companheiros de sector, prendia os defesas e movimentava-se sem bola como poucos. Isto sem falar no seu temível jogo de cabeça, ideal para o sistema de jogo “guarda-redes – pivot (Vinha) – avançado concretizador”. No Salgueiros, quando o famoso contra-ataque não funcionava, esse sistema era explorado ao máximo com a tripla Pedro Espinha – Vinha – Toni, ou posteriormente Silvino – Vinha – Artur Jorge Vicente.
Jogador de uma inteligência acima da média, combinava com os outros astros da equipa a um nível transcendental. Glórias passadas e futuras do futebol nacional, como Miguel Simão, Semedo, Abílio, Schuster ou Tulipa foram alguns dos beneficiados por jogar ao lado deste mito dos relvados nacionais.
É, sem dúvida, uma referência do “Efeito Poste de Electricidade” em Portugal.
Skuhravy
Gigante e assustador, dirão uns, Oportunista e cínico, dirão outros. Tudo isso, dirão ainda outros, diferentes dos outros que disseram oportunista e cínico, pois também o acham gigante e assustador.
Melhor marcador do mundial de 90 pela extinta Checoslováquia, em igualdade com Salvatore Schillaci, o rapaz que um dia sonhou jogar a bola viu-se de repente catapultado para os holofotes da fama, numa transferência relâmpago para o calcio. Lá, onde o futebol é defensivo e os defesas são do mais viril que existe no mundo da bola, Tomas, ainda “verde”, não conseguiu impôr o seu futebol.
O Cattenaccio não lhe deu tréguas, e apesar de lhe ser reconhecido valor, nunca conseguiu dar o salto para um grande da Série A. O melhor que fez foram 12 golos em 1994, ao serviço do Génova. Pela selecção, 49 jogos e 17 golos.
Aquele que poderia ter sido o intérprete de um fabuloso “Efeito Poste de Electricidade”, tentou a sua sorte em Portugal, pelo Sporting, onde novamente não teve sorte, apesar de ter batido alguns recordes nos testes físicos. Um remate à trave no Municipal de Chaves foi o porta-estandarte duma efémera passagem por terras lusas.
Com 1,91 metros e 88 quilos, teve o pássaro na mão, mas acabou por esmigalhá-lo.
Miguel Barros
Com 1,92 metros, foi um grande intérprete em potência desta “RT”. No entanto, a potência de nada serve sem a colocação.
Começou jovem, muito jovem, ao serviço dum Salgueiros que contava com grandes nomes como os jugoslavos Milovac e Nikolic, como Rui França e como os mitos vivos de Vidal Pinheiro que foram Madureira e Pedro Reis. Apesar de não ter sido muito utilizado, aprendeu.
As épocas seguintes, aquelas que podiam ter sido as da sua confirmação, não o foram. Salgueiros, Beira-Mar e Leça foram os clubes da 1ª divisão que tiveram Miguel Barros nas fileiras, sem no entanto desfrutarem do talento do altaneiro avançado.
Quem aproveitou foi o Maia, e na 2ª divisão Miguel viveu as suas melhores épocas: 9 golos em 97 e 12 em 98. No entanto, não lhe voltaram a chamar ao principal escalão e, triste, afogou-se nas divisões secundárias.
Birame
Trata-se de um jogador feito para ser usado nesta táctica. Não tinha jeito de pés, logo a sua maior utilidade era servir de grande tsunami, arrastando consigo os defesas contrários.
Tristemente para o nosso futebol em geral, e para jogador e clube em particular, Birame chegou, viu e viu mais um pouco.
Com 190 centímetros por 90 quilos, o senegalês tinha tudo para ser feliz. Era um caso evidente de dois “RT” num único atleta. Por um lado, tinha um físico óptimo para o “efeito poste de electricidade”. Por outro lado, o seu nome era agradavelmente ameaçador do ponto de vista futebolístico: Mame Birame Magave. Se os adversários não ficassem assustados com a sua envergadura, podia-se sempre afirmar que era um exímio praticante de voodoo. Com um nome desses, ninguém se atreveria a desconfiar dos poderes de Dr. Magave, especialista em todos os fenómenos ocultos que dá garantia de sucesso onde todos os outros médiuns falham.
Quiçá para a próxima, com um gestor de imagem como eu, Birame tenha melhor sorte.
Paulo Alves
Porventura o mais bem sucedido de todos os “postes de electricidade”, Paulo Alves teve uma carreira recheada de êxitos, coroada com chamadas assíduas à selecção nacional, onde marcou 7 golos em 13 internacionalizações. Apesar de desengonçado, era um jogador poderoso que absorvia a sua quota-parte de defesas, e ainda lhe sobrava tempo para fazer o gosto ao pé por diversas vezes.
Começou no Gil Vicente, mas foi no Marítimo que se destacou, formando uma dupla que denotava uma enorme cumplicidade, com Alex Bunbury. Disputado pelos dois grandes, acabou por ingressar no Sporting. Passadas três épocas, a aventura no estrangeiro, no Bastia, para regressar um ano depois a Portugal, para Leiria. Acabou por voltar a casa, onde joga, no Gil Vicente.
Trata-se de um avançado que, em condições normais, e dados os minutos de jogo, não só exerce de maneira soberba a “RT”, como também assegura uma dezena de golos por época.
Anos mais tarde, na época 99/00, houve uma dupla que ainda chegou aos calcanhares de Alex e Alves, e ao estatuto de heróis da região autónoma da Madeira. Foram eles Toedtli e Sumudica, que eram municiados por Bruno, em vez de Vado.
Brian Deane
Quando o Benfica o foi buscar ao Sheffield United, clube que alinhava na Division One * inglesa, cedo ecoaram gargalhadas em redor do novo reforço. Comentários como “epá… se a qualidade se contar ao quilo, é com certeza bom jogador”, ou “dá sempre jeito ter meninos desses para fazerem a barreira”.
Cegos, futebolisticamente incultos, não souberam reconhecer a “RT” que Souness queria aplicar ao “seu” glorioso.
Com uma capacidade física a fazer lembrar a cordilheira dos Alpes (não que fosse corcunda ou tivesse bossas como os camelos, mas simplesmente por ser brutalmente grande), Brian apresentava-se à massa associativa com apenas 184 centímetros que, no entanto, estavam bem condimentados pelos seus 87 quilos.
Serviu de “poste de electricidade” para as entradas dos dois avançados móveis, João Pinto e Nuno Gomes, e ainda deu dinheiro a ganhar ao clube, que o vendeu posteriormente ao Middlesbrough.
*divisão equivalente à nossa Liga de Honra.
Inserir na táctica um grande avançado que leve os defesas atrás, qual poste de electricidade cheio de pombos. Isto dará o espaço necessário às penetrações dos companheiros de equipa.
Assim sendo, temos exemplos bestiais na nossa montra de prémios. Roberto Matute, o exemplo dado na introdução, é claramente uma “vítima” deste efeito. Mas muitos mais existem que merecem igualmente ser destacados. São uma classe em perigo de extinção, uns altruístas que importa preservar.
Vinha
O Empire State Building de Paranhos. Digno sucessor de grandes nomes nacionais, como José Águas, Ricky ou Rudi, Vinha era um jogador cujas estatísticas não conseguem revelar a importância que ele tinha na manobra ofensiva da equipa.
Com uma carreira construída no norte, maioritariamente no Vidal Pinheiro, com uma breve mas merecida passagem pelas Antas, o adelgaçado gigante, apesar de não denotar a velocidade nem a agilidade de alguns dos seus companheiros de sector, prendia os defesas e movimentava-se sem bola como poucos. Isto sem falar no seu temível jogo de cabeça, ideal para o sistema de jogo “guarda-redes – pivot (Vinha) – avançado concretizador”. No Salgueiros, quando o famoso contra-ataque não funcionava, esse sistema era explorado ao máximo com a tripla Pedro Espinha – Vinha – Toni, ou posteriormente Silvino – Vinha – Artur Jorge Vicente.
Jogador de uma inteligência acima da média, combinava com os outros astros da equipa a um nível transcendental. Glórias passadas e futuras do futebol nacional, como Miguel Simão, Semedo, Abílio, Schuster ou Tulipa foram alguns dos beneficiados por jogar ao lado deste mito dos relvados nacionais.
É, sem dúvida, uma referência do “Efeito Poste de Electricidade” em Portugal.
Skuhravy
Gigante e assustador, dirão uns, Oportunista e cínico, dirão outros. Tudo isso, dirão ainda outros, diferentes dos outros que disseram oportunista e cínico, pois também o acham gigante e assustador.
Melhor marcador do mundial de 90 pela extinta Checoslováquia, em igualdade com Salvatore Schillaci, o rapaz que um dia sonhou jogar a bola viu-se de repente catapultado para os holofotes da fama, numa transferência relâmpago para o calcio. Lá, onde o futebol é defensivo e os defesas são do mais viril que existe no mundo da bola, Tomas, ainda “verde”, não conseguiu impôr o seu futebol.
O Cattenaccio não lhe deu tréguas, e apesar de lhe ser reconhecido valor, nunca conseguiu dar o salto para um grande da Série A. O melhor que fez foram 12 golos em 1994, ao serviço do Génova. Pela selecção, 49 jogos e 17 golos.
Aquele que poderia ter sido o intérprete de um fabuloso “Efeito Poste de Electricidade”, tentou a sua sorte em Portugal, pelo Sporting, onde novamente não teve sorte, apesar de ter batido alguns recordes nos testes físicos. Um remate à trave no Municipal de Chaves foi o porta-estandarte duma efémera passagem por terras lusas.
Com 1,91 metros e 88 quilos, teve o pássaro na mão, mas acabou por esmigalhá-lo.
Miguel Barros
Com 1,92 metros, foi um grande intérprete em potência desta “RT”. No entanto, a potência de nada serve sem a colocação.
Começou jovem, muito jovem, ao serviço dum Salgueiros que contava com grandes nomes como os jugoslavos Milovac e Nikolic, como Rui França e como os mitos vivos de Vidal Pinheiro que foram Madureira e Pedro Reis. Apesar de não ter sido muito utilizado, aprendeu.
As épocas seguintes, aquelas que podiam ter sido as da sua confirmação, não o foram. Salgueiros, Beira-Mar e Leça foram os clubes da 1ª divisão que tiveram Miguel Barros nas fileiras, sem no entanto desfrutarem do talento do altaneiro avançado.
Quem aproveitou foi o Maia, e na 2ª divisão Miguel viveu as suas melhores épocas: 9 golos em 97 e 12 em 98. No entanto, não lhe voltaram a chamar ao principal escalão e, triste, afogou-se nas divisões secundárias.
Birame
Trata-se de um jogador feito para ser usado nesta táctica. Não tinha jeito de pés, logo a sua maior utilidade era servir de grande tsunami, arrastando consigo os defesas contrários.
Tristemente para o nosso futebol em geral, e para jogador e clube em particular, Birame chegou, viu e viu mais um pouco.
Com 190 centímetros por 90 quilos, o senegalês tinha tudo para ser feliz. Era um caso evidente de dois “RT” num único atleta. Por um lado, tinha um físico óptimo para o “efeito poste de electricidade”. Por outro lado, o seu nome era agradavelmente ameaçador do ponto de vista futebolístico: Mame Birame Magave. Se os adversários não ficassem assustados com a sua envergadura, podia-se sempre afirmar que era um exímio praticante de voodoo. Com um nome desses, ninguém se atreveria a desconfiar dos poderes de Dr. Magave, especialista em todos os fenómenos ocultos que dá garantia de sucesso onde todos os outros médiuns falham.
Quiçá para a próxima, com um gestor de imagem como eu, Birame tenha melhor sorte.
Paulo Alves
Porventura o mais bem sucedido de todos os “postes de electricidade”, Paulo Alves teve uma carreira recheada de êxitos, coroada com chamadas assíduas à selecção nacional, onde marcou 7 golos em 13 internacionalizações. Apesar de desengonçado, era um jogador poderoso que absorvia a sua quota-parte de defesas, e ainda lhe sobrava tempo para fazer o gosto ao pé por diversas vezes.
Começou no Gil Vicente, mas foi no Marítimo que se destacou, formando uma dupla que denotava uma enorme cumplicidade, com Alex Bunbury. Disputado pelos dois grandes, acabou por ingressar no Sporting. Passadas três épocas, a aventura no estrangeiro, no Bastia, para regressar um ano depois a Portugal, para Leiria. Acabou por voltar a casa, onde joga, no Gil Vicente.
Trata-se de um avançado que, em condições normais, e dados os minutos de jogo, não só exerce de maneira soberba a “RT”, como também assegura uma dezena de golos por época.
Anos mais tarde, na época 99/00, houve uma dupla que ainda chegou aos calcanhares de Alex e Alves, e ao estatuto de heróis da região autónoma da Madeira. Foram eles Toedtli e Sumudica, que eram municiados por Bruno, em vez de Vado.
Brian Deane
Quando o Benfica o foi buscar ao Sheffield United, clube que alinhava na Division One * inglesa, cedo ecoaram gargalhadas em redor do novo reforço. Comentários como “epá… se a qualidade se contar ao quilo, é com certeza bom jogador”, ou “dá sempre jeito ter meninos desses para fazerem a barreira”.
Cegos, futebolisticamente incultos, não souberam reconhecer a “RT” que Souness queria aplicar ao “seu” glorioso.
Com uma capacidade física a fazer lembrar a cordilheira dos Alpes (não que fosse corcunda ou tivesse bossas como os camelos, mas simplesmente por ser brutalmente grande), Brian apresentava-se à massa associativa com apenas 184 centímetros que, no entanto, estavam bem condimentados pelos seus 87 quilos.
Serviu de “poste de electricidade” para as entradas dos dois avançados móveis, João Pinto e Nuno Gomes, e ainda deu dinheiro a ganhar ao clube, que o vendeu posteriormente ao Middlesbrough.
*divisão equivalente à nossa Liga de Honra.
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