Thursday, April 12, 2007

"Nasci com 40 anos"

Há jogadores que, no início da carreira, com meros 19 anos, já têm cara de capitão e elemento mais antigo do plantel. Quer pela expressão facial, quer por falta de cabelo ou dentes, saem dos juniores para o plantel principal e já têm uma série de jogadores a pedirem-lhes dicas e conselhos baseados na sua inexistente mas aparente vasta experiência.
O caso mais pragmático será, como toda a gente estará à espera, o de Wilson, central do Belenenses e de Angola.


RATOEIRA TÁCTICA NÚMERO 5: O “EFEITO NASCI COM 40 ANOS”

Baseia-se na máxima “respeitinho é bonito e eu gosto”. O jogador, parecendo de uma geração diferente, receberá um tratamento mais cordial e cerimonioso, do qual se aproveitará para melhorar as suas prestações em campo.



Wilson

Existem 5 ingredientes-base para tirar partido desta “RT” ao máximo. Wilson, como maior expoente do “Efeito nasci com 40 anos”, contém na sua figura esses 5 elementos:

1. O ar cansado (provavelmente de estar farto de ouvir a dupla romântica Roberto Carlos e Néné Santarém, seus companheiros em Barcelos);

2. O cabelo pouco cuidado (o que não tem grande justificação, pois esteve no mesmo clube que Lim, o rei do gel);

3. A barba de três dias;

4. O caminhar algo corcundesco*;

5. O ar cansado (só para dar mais ênfase ao cansaço, que nunca é demais).

Há ainda um ingrediente (melhor dizendo, talvez será uma condição) extra, que é o facto de o jogador não poder ser verdadeiramente velho. Isto simplesmente porque um velho com ar de velho não vai conseguir tirar partido das suas jovens condições físicas para ganhar vantagem sobre o adversário, dado que não tem jovens condições físicas.
Agora se falarmos de um velho com acesso ao poço da juventude, esse sim pode usar esta “RT”, desde que se continue a aparentar como um velhote, apesar de possuir as condições físicas de um jovem.

*andar típico de um sujeito com uma corcunda, ou algo marreta.


Voltando ao jogador, tudo isto pode prejudicá-lo esteticamente. No entanto quem ri por último ri melhor, e quem olhar para os números da carreira de Wilson verá que estamos perante um autêntico génio das “RT”.
Começou como médio no Gil Vicente, em 1994, mas foi quando se transferiu para Belém, em 1999, que se tornou num dos melhores e mais sóbrios centrais do futebol português. Com mais de 200 jogos no principal escalão, formou uma grande dupla de centrais com Filgueira (o estrangeiro recordista de jogos na 1ª divisão, mais de 400).
O internacional angolano será, certamente, dos melhores centrais dos últimos anos em Portugal. Poderia ter voado bem mais alto se não tivesse passado tantas épocas nos escalões secundários. Por outro ângulo, também é verdade que se tivesse voado mais alto, tinha apanhado com mais vento na cabeça e teria ficado careca mais cedo, o que, de acordo com a premissas anteriores, apenas o ajudaria, pelo que prova o contrário do intuito com que esta frase foi aqui colocada.


Manuel Correia

Sempre tive uma dúvida… Se o diminutivo de Manuel é Manel, então porque não diminuir também o nome de Emanuel para Emanel?
Isto para apresentar o próximo quarentão, Manuel Correia, o eterno líder da defesa flaviense. Caso raro de lealdade no futebol nacional, contudo com uma evidente explicação: Os clubes gostam de comprar jovens. Não se vê muitos clubes a investir em jogadores de 32 anos. Ora Manuel, aos 25 anos, já se assemelhava com um veterano de 33, que era a idade que transparecia para os potenciais interessados. Conclusão desnecessária por ser mais que óbvia: ninguém o tentava comprar.
Sorte para o Chaves que contou durante épocas a fio com um sólido central, sóbrio e eficaz, e que ensinou a escola toda ao seu sucessor no eixo da defensiva transmontana, Paulo Alexandre.


André

Escolhi André como podia muito bem ter escolhido Jaime Magalhães, Semedo ou Bandeirinha. Falo daquela famosa equipa do Porto que parecia saída do campeonato da 3ª idade, tantos eram os carecas em campo. No entanto, André compensava a falta de cabelo com enorme garra, imagem de marca das equipas nortenhas.
Eram todos jogadores de imensa tradição no Porto, ou não tivessem equipado de azul e branco durante toda uma década. O que nos diz isto? Que as Antas provocam queda de cabelo. Felizmente que outros valores como Kostadinov e Fernando Couto, com as suas grandes cabeleiras, saíram a tempo do clube. Basta ver o que acabou por suceder a Jorge Costa.


Cao

O caso do cabo-verdiano é diferente dos outros. Rezam as crónicas que Cao não aparentava ser mais velho, ele era mesmo mais velho. O quê? Pergunta o leitor.
Para melhor explicar, trago de volta à memória o caso de Gil, membro da geração de ouro de Carlos Queiroz, juntamente com Figo, Rui Costa e João Pinto. Apesar de ter apenas 21 anos no papel, dizia-se que tinha, na realidade, mais alguns aninhos nas pernas. Isso explica o facto de ter acabado a carreira bem mais cedo.
Mas porque é que isto acontece? Como moram longe dos registos civis, as famílias em África aproveitam e vão registar os filhos logo todos de uma vez, de modo a poupar na viagem. Assim sendo, é comum aparecer um rapaz de 10 anos no registo a dizer: “nasci!”.
Agora que isto está explicado, voltamos a Cao. Também ele foi campeão mundial de sub-20 em 1991. No entanto, esse foi o auge da sua carreira, tendo posteriormente passado por clubes como o Leça, Salgueiros, ou Campomaiorense.
Podem achar que isto é batotice mas, para além da vossa opinião pouco interessar aos intervenientes, trata-se de uma faca de dois gumes. Está certo que têm a vantagem de estarem mais desenvolvidos fisicamente nos escalões de formação, mas por outro lado acabam por jogar menos épocas a sénior, altura em que se ganha o dinheiro a sério.
Actualmente tem-se a mesma dúvida com o avançado do Benfica Pedro Mantorras e com o trinco Ednilson, mas isso agora não interessa a ninguém, e aproveito para desejar as melhoras ao avançado, apelando para que não voltem a fazer uma grande jantarada com todo o plantel encarnado, deixando-o de fora…

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