Sim, esta secção, segundo a lógica, deveria estar junto aos dramas capilares. Mas se já chegou a meio desta obra e ainda julga a mesma se rege pela lógica, então feche-o imediatamente e vá dar um mergulho na piscina. Se não tem piscina regue a sua cabeça com sumo de laranja, de preferência muito doce e com muita polpa, para que este fique perpetuamente peganhento. De seguida, volte à leitura, não sem antes lavar as mãos porque senão caga o livro todo. (toda esta interactividade livro leitor é tão real e fascinante que, por vezes, até assusta! Chega mesmo a rivalizar com aqueles livros para crianças em que figuras saltam para fora da folha ao abrir a página, revelando um mágico mundo bidimensional!).
Vamos dividir os casos por secções, porque assim ocupa mais espaço:
• Aumentar para se tornar mais assustador
Os centrais têm que intimidar os atacantes. Isto é uma das verdades absolutas do futebol, juntamente com “quem marcar mais golos, ganha”.
Trazemos hoje a público o caso de dois rapazes que passaram de meros jovens defesas com potencialidades a grandes nomes do nosso futebol.
Isto porquê? Não foi porque treinaram muito, nem porque aprenderam com os seus companheiros mais veteranos, como Aloísio e Mozer. Foi, sim, porque abriram as portas da sua cabeça a uma quantidade incomensurável de cabelos.
Começando com o antigo capitão da selecção das quinas, Fernando Couto, outrora um defesa com ar de jovem inocente. Quem diria que se viria a tornar num consagrado caceteiro, vencedor de inúmeros títulos em Portugal, Espanha e Itália?
Pode-se ver pelas fotografias que, inicialmente, Fernando tentava fazer cara de duro, mas sem grande sucesso. Graças ao seu desenvolvimento capilar, na fotografia do depois ele até toma a liberdade de sorrir e continua com de tipo rude que não está para grandes conversas!
Há que dar os parabéns a quem aconselhou Couto a deixar crescer o cabelo, pois a essa pessoa se deve a brilhante carreira de um dos melhores centrais portugueses de sempre.
Outro exemplo óbvio é o do injustiçado (para alguns, incluindo o próprio) defesa benfiquista e antigo internacional, Paulo Madeira.
Tendo começado como uma grande esperança benfiquista, cedo se desencontrou do bom caminho, tendo passado pelo Marítimo e pelo Belenenses, antes de regressar à luz.
Foi precisamente no Restelo que Paulo encontrou a peça que faltava ao seu jogo: um ar ameaçador! Assim sendo, deixou crescer o cabelo e a sua carreira floresceu. Chegou mesmo a titular da selecção ao lado de Couto, naquela que ficou conhecida como a dupla de centrais capilarmente mais volumosa da história da nossa selecção.
Infelizmente para ele, acabou tristemente a sua carreira de encarnado vitima das criticas que o acusavam de ser o cancro daquela defesa benfiquista que acabou o campeonato em 6º lugar (pior classificação na história do clube).
• Diminuir para se tornar mais assustador
Por vezes, caminhos opostos levam ao mesmo destino. Tal como os últimos dois jogadores referidos, também o defesa setubalense Figueiredo tinha um imenso desejo de se tornar medonho para os adversários e pretendentes à sua esposa. Para atingir esse objectivo, e dado que não podia deixar crescer mais o cabelo senão corria o perigo de tropeçar no mesmo (ou de ser apelidado Rapunzel do futebol nacional), decidiu cortá-lo.
Assim sendo, o tradicional penteado de mulher-a-dias deu lugar a um penteado curto mas sóbrio, digno de central com pergaminhos no nosso campeonato. Para tal também contribuiu a cedência do sorriso à defesa manso em prol de um rosto duro de quem já passou por muita privação na vida.
O caminho para a absolvição capilar de Figueiredo deveria ser tomado como exemplo para muito bom jogador assolado pelo drama dos maus penteados.
• Mudar para ficar aerodinâmico
Para um extremo há dois atributos que são muito importantes: ter as duas pernas e ter velocidade. Também dá jeito saber cruzar bem a bola para a área, mas demasiadas vezes isso já é pedir muito.
Partindo do princípio que a grande maioria dos extremos já tem o primeiro atributo, resta focarmo-nos na velocidade. Hoje em dia ganha-se um sprint por milésimas de segundo, logo todos os pormenores são importantes de modo a tornar o jogador numa máquina aerodinâmica.
O exemplo que trago aqui é o do extremo esquerdo do Gil Vicente, Lim (um repetente neste livro, mas este penteado e as razões por detrás da sua existência têm de ser propriamente analisados). Era um jogador forte e rápido, dono de um pé esquerdo insaciável por assistências. Contudo, faltava algo para lhe dar “aquela margem” de vantagem sobre a competição. Lim já se depilava, pelo que apenas faltava dar o último passo para ser totalmente aerodinâmico: o cabelo.
Se tivesse rapado o cabelo, poderia ter-se tornado num dos melhores extremos esquerdos do mundo. Vaidoso, no entanto, ficou-se pela aplicação abundante de gel, uma solução de recurso, tendo ficado apenas como um bom extremo do nosso futebol.
• O drama do irreconhecimento
Após uma boa época ao serviço do “seu” Beira-Mar, Lobão decidiu ser irreverente. Queria cometer uma loucura. Não mais uma daquelas suas entradas assassinas, isso já estava muito rodado. Comprar um carro novo também não, pois toda a gente sabe que o defesa tinha grande orgulho no seu Seat (dos poucos jogadores que não compram um carrão com os primeiros salários, o que é de celebrar!). Assim sendo, decidiu-se por começar a usar uma fita na cabeça, para prender o cabelo e melhor ver o alvo da sua próxima entrada a dois pés, por detrás!
Mal sabia Lobão na embrulhada em que estava prestes a meter-se… Como se pode ver pelas fotografias (antes e depois), o defesa ficou virtualmente irreconhecível graças a um mero adereço. Consequência: de jogador com créditos firmados no futebol nacional passou a rookie sem provas dadas.
Ninguém sabia quem era o novo jogador que havia chegado a Aveiro. As suas tentativas de explicação, “Sou eu malta, o Lobão… Auuuuuuuu!!!”,* saíam invariavelmente furadas.
A moral da história reside no facto de que uma mudança de visual demasiado radical pode deitar a perder toda uma reputação construída com o suor proveniente de trabalho sucessivo durante anos a fio.
* tentativa, algo infeliz, de imitar o uivo de um lobo.
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