Monday, May 21, 2007

Quem Te Viu e Quem Te Vê...

Não só David Bowie e Madona mudam radicalmente de visual, embora esses dois mudem várias vezes. Também os jogadores de futebol mudam muitas vezes de look, principalmente no que se refere aos seus penteados. David Beckham e Simão Sabrosa são exemplos antagónicos.

Sim, esta secção, segundo a lógica, deveria estar junto aos dramas capilares. Mas se já chegou a meio desta obra e ainda julga a mesma se rege pela lógica, então feche-o imediatamente e vá dar um mergulho na piscina. Se não tem piscina regue a sua cabeça com sumo de laranja, de preferência muito doce e com muita polpa, para que este fique perpetuamente peganhento. De seguida, volte à leitura, não sem antes lavar as mãos porque senão caga o livro todo. (toda esta interactividade livro leitor é tão real e fascinante que, por vezes, até assusta! Chega mesmo a rivalizar com aqueles livros para crianças em que figuras saltam para fora da folha ao abrir a página, revelando um mágico mundo bidimensional!).


Vamos dividir os casos por secções, porque assim ocupa mais espaço:



Aumentar para se tornar mais assustador

Os centrais têm que intimidar os atacantes. Isto é uma das verdades absolutas do futebol, juntamente com “quem marcar mais golos, ganha”.
Trazemos hoje a público o caso de dois rapazes que passaram de meros jovens defesas com potencialidades a grandes nomes do nosso futebol.
Isto porquê? Não foi porque treinaram muito, nem porque aprenderam com os seus companheiros mais veteranos, como Aloísio e Mozer. Foi, sim, porque abriram as portas da sua cabeça a uma quantidade incomensurável de cabelos.
Começando com o antigo capitão da selecção das quinas, Fernando Couto, outrora um defesa com ar de jovem inocente. Quem diria que se viria a tornar num consagrado caceteiro, vencedor de inúmeros títulos em Portugal, Espanha e Itália?
Pode-se ver pelas fotografias que, inicialmente, Fernando tentava fazer cara de duro, mas sem grande sucesso. Graças ao seu desenvolvimento capilar, na fotografia do depois ele até toma a liberdade de sorrir e continua com de tipo rude que não está para grandes conversas!
Há que dar os parabéns a quem aconselhou Couto a deixar crescer o cabelo, pois a essa pessoa se deve a brilhante carreira de um dos melhores centrais portugueses de sempre.


Outro exemplo óbvio é o do injustiçado (para alguns, incluindo o próprio) defesa benfiquista e antigo internacional, Paulo Madeira.
Tendo começado como uma grande esperança benfiquista, cedo se desencontrou do bom caminho, tendo passado pelo Marítimo e pelo Belenenses, antes de regressar à luz.
Foi precisamente no Restelo que Paulo encontrou a peça que faltava ao seu jogo: um ar ameaçador! Assim sendo, deixou crescer o cabelo e a sua carreira floresceu. Chegou mesmo a titular da selecção ao lado de Couto, naquela que ficou conhecida como a dupla de centrais capilarmente mais volumosa da história da nossa selecção.
Infelizmente para ele, acabou tristemente a sua carreira de encarnado vitima das criticas que o acusavam de ser o cancro daquela defesa benfiquista que acabou o campeonato em 6º lugar (pior classificação na história do clube).



Diminuir para se tornar mais assustador

Por vezes, caminhos opostos levam ao mesmo destino. Tal como os últimos dois jogadores referidos, também o defesa setubalense Figueiredo tinha um imenso desejo de se tornar medonho para os adversários e pretendentes à sua esposa. Para atingir esse objectivo, e dado que não podia deixar crescer mais o cabelo senão corria o perigo de tropeçar no mesmo (ou de ser apelidado Rapunzel do futebol nacional), decidiu cortá-lo.
Assim sendo, o tradicional penteado de mulher-a-dias deu lugar a um penteado curto mas sóbrio, digno de central com pergaminhos no nosso campeonato. Para tal também contribuiu a cedência do sorriso à defesa manso em prol de um rosto duro de quem já passou por muita privação na vida.
O caminho para a absolvição capilar de Figueiredo deveria ser tomado como exemplo para muito bom jogador assolado pelo drama dos maus penteados.



• Mudar para ficar aerodinâmico

Para um extremo há dois atributos que são muito importantes: ter as duas pernas e ter velocidade. Também dá jeito saber cruzar bem a bola para a área, mas demasiadas vezes isso já é pedir muito.
Partindo do princípio que a grande maioria dos extremos já tem o primeiro atributo, resta focarmo-nos na velocidade. Hoje em dia ganha-se um sprint por milésimas de segundo, logo todos os pormenores são importantes de modo a tornar o jogador numa máquina aerodinâmica.
O exemplo que trago aqui é o do extremo esquerdo do Gil Vicente, Lim (um repetente neste livro, mas este penteado e as razões por detrás da sua existência têm de ser propriamente analisados). Era um jogador forte e rápido, dono de um pé esquerdo insaciável por assistências. Contudo, faltava algo para lhe dar “aquela margem” de vantagem sobre a competição. Lim já se depilava, pelo que apenas faltava dar o último passo para ser totalmente aerodinâmico: o cabelo.
Se tivesse rapado o cabelo, poderia ter-se tornado num dos melhores extremos esquerdos do mundo. Vaidoso, no entanto, ficou-se pela aplicação abundante de gel, uma solução de recurso, tendo ficado apenas como um bom extremo do nosso futebol.



O drama do irreconhecimento

Após uma boa época ao serviço do “seu” Beira-Mar, Lobão decidiu ser irreverente. Queria cometer uma loucura. Não mais uma daquelas suas entradas assassinas, isso já estava muito rodado. Comprar um carro novo também não, pois toda a gente sabe que o defesa tinha grande orgulho no seu Seat (dos poucos jogadores que não compram um carrão com os primeiros salários, o que é de celebrar!). Assim sendo, decidiu-se por começar a usar uma fita na cabeça, para prender o cabelo e melhor ver o alvo da sua próxima entrada a dois pés, por detrás!
Mal sabia Lobão na embrulhada em que estava prestes a meter-se… Como se pode ver pelas fotografias (antes e depois), o defesa ficou virtualmente irreconhecível graças a um mero adereço. Consequência: de jogador com créditos firmados no futebol nacional passou a rookie sem provas dadas.
Ninguém sabia quem era o novo jogador que havia chegado a Aveiro. As suas tentativas de explicação, “Sou eu malta, o Lobão… Auuuuuuuu!!!”,* saíam invariavelmente furadas.
A moral da história reside no facto de que uma mudança de visual demasiado radical pode deitar a perder toda uma reputação construída com o suor proveniente de trabalho sucessivo durante anos a fio.

* tentativa, algo infeliz, de imitar o uivo de um lobo.

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