Monday, May 21, 2007

Grandes Duplas - A Origem do Romário - Ronaldo

Normalmente as grandes duplas são dois avançados ou dois defesas centrais. Nunca ouvi falar numa dupla guarda-redes & extremo direito, ou trinco & lateral esquerdo, a não ser que estejam os dois adaptados, caso de Helguera e Raul Bravo. Mas eles nem formam uma grande dupla, logo a minha teoria continua válida.

A dupla mais conhecida dos últimos tempos foi a Ro-Ro, que formavam a temível linha avançada da selecção canarinha. Mas antes disso já muitas duplas em Portugal se tinham evidenciado pela sua qualidade conjunta e habilidade de jogar quase de olhos fechados. Trata-se, inevitavelmente, de mais um caso de sinergia futebolística.


Não poderia começar por outro jogador que não Roberto Carlos. Não o cantor brasileiro, mas sim algo parecido. Também nascido em terras de Vera Cruz, este ponta de lança chegou a Portugal rotulado de um assassino de área. Mas não foram os golos que o notabilizaram. Foram sim as duplas que formou. Passando a explicar, Roberto tem as características físicas de um grande cantor romântico, ao timbre do seu homónimo, ou mesmo do ícone luso-brasileiro Roberto Leal. Aliás, o nome Roberto parece ser receita de sucesso e um belo trampolim para o estrelato.
Assim sendo, Roberto Carlos formou, primeiro no Nacional da Madeira e posteriormente no Gil Vicente, duplas românticas dignas de fazer chorar qualquer fã de Leandro e Leonardo, ou mesmo Miguel e André.
No início da década de 90 equipou de alvi-negro, e formou uma temível dupla com o internacional brasileiro Robertinho, digna de rebentar com o mais elástico dos tímpanos. Numa equipa então comandada pelo conceituado Jair Picerni, e onde militavam ícones como Paulinho (defesa internacional português), Rolão Preto ou mesmo Edmílson (que ganhou fama em Portugal ao serviço de Marítimo e Guimarães), a mais valia era sem dúvida essa fabulosa química que emergia sempre que a dupla estava em campo.
Olhando para as fotos dos dois jogadores, e imaginando-as no cartaz de umas feiras populares como a actuação em destaque, quem não iria a este concerto, e porventura compraria o álbum no dia seguinte? A dupla Roberto Carlos – Robertinho tinha tudo para ser um exlíbris da música popular brasileira.


Esta dupla, no entanto, não durou muito tempo, alegadamente devido a incompatibilidades artísticas. Outra razão poderá ter sido o afundamento do Nacional nas divisões secundárias durante grande parte da década de 90. No entanto, Roberto Carlos tinha muita arte dentro de si, e queria partilhá-la com os adeptos de futebol portugueses.
Mudou-se de malas e bagagem para Barcelos, onde encontrou outro potencial candidato a cantor romântico, nada menos nada mais que o famigerado Néné Santarém. Este era um jogador em miniatura, protótipo de rato-atómico com 1,65m de altura. Em palco, a dupla não era suficiente homogénea, dada a diferença de 14 centímetros, e a química não rolou. Invejas e conspirações pelas costas vieram a público. Outra das razões poderá ter sido o facto de Mangonga ser um concorrente à altura, com umas cordas vocais de fazer inveja a Peter Schmichael e a Michael Bolton.
O projecto musical descambou, e Roberto Carlos teve que prosseguir carreira a solo.


Recuando bastante no terreno de jogo até ao eixo da defesa, houve uma dupla que será, para sempre, relembrada como uma das caricatamente menos eficientes de todos os tempos. Isto porquê? Eram ambos jogadores de grande valor, com provas dadas no escalão principal. No entanto, não evitaram que o Paços de Ferreira descesse, juntamente com todos os móveis, à 2ª divisão. Será porque o guarda-redes Padrão já havia passado o auge da carreira? Será que os trincos da equipa, Dacroce e Bozinoski, não eram suficientemente aguerridos e deixavam passar tudo o que aparecia, qual faca quente em manteiga? Ou será que a culpa era dos laterais Mota (primeiro nome José, futuro treinador do clube) e Álvaro Gregório? As razões ficam no segredo dos deuses. A mim, compete-me apenas lançar a dúvida, não chegar a conclusões, pois o futebol não é uma ciência exacta e, como toda a gente sabe, é jogado por seres humanos, por muito peculiares que esses sejam.
A dupla de que falo era formada por «Chico» Oliveira, moçambicano de gema, jogador frio e intransponível no jogo aéreo, e por Sérgio Cruz, rotulado como dos melhores líberos do futebol nacional, e titular por todos os clubes por onde passou. Formaram durante duas épocas uma dupla de sucesso que garantia a inviolabilidade das balizas do grémio da capital do móvel.
Qual terá sido a razão para o descalabro à terceira época? Foi uma época atroz para o clube. 49 golos sofridos e 31 marcados, para acabar a dois pontos do Braga, 15º classificado. Aquela que era apontada como uma das melhores duplas, estatisticamente acabou como a quarta defesa mais batida da época. Os números são frios, concisos, por vezes excessivamente duros. Nos momentos de maior aperto os sócios só sabem apontar os dedos aos alvos fáceis, nunca relembrando as alegrias passadas que esses mesmos carrascos lhes haviam proporcionado.
O futebol, triste e infelizmente, é assim. A passagem de bestial a besta é tão rápida quanto Lucky Luke.
Nas duas épocas transactas, com a mesma dupla a titular, o Paços havia ficado em 10º, com 44 golos sofridos (92/93) e 12º, com 45 golos sofridos (91/92). Uma diferença de 4 golos apenas ditou o desmoronamento de uma das mais belas duplas defensivas de que há memória no futebol luso.

Há duplas que ficam famosas por se entenderem dentro de campo como se fossem gémeos siameses, comunicando extra-sensorialmente. Outras, por serem companheiros inseparáveis de sector durante anos a fio. E depois há aquelas duplas que ficam conhecidas devido a peculiaridades físicas.
É neste último grupo que se enquadram os patrões do miolo axadrezado na época de 97/98.
O primeiro componente da dupla jogava um pouco mais recuado, devido às suas características marcadamente defensivas. Com a carreira para sempre marcada devido à polémica Ovarense-Sporting, falamos de Luís Manuel, o trinco voluntarioso e antigo pescador.
Um pouco mais adiantado no terreno, no entanto sem descurar uma ocasional ajuda ao seu companheiro de sector nas tarefas defensivas, vislumbramos Luís Carlos. Brasileiro de técnica e raça acima da média, possuía também uma gadelha que em nada envergonhava o “padrinho” Pedro Miguel*.

*“padrinho” pois entendo que Pedro Miguel foi e será para sempre “o” jogador de grande cabeleira ao vento em Portugal. Assim sendo, ele será denominado como padrinho, e todos os outros gadelhudos, antes ou após a era PM nada mais serão do que meros afilhados.


Luís Manuel, no entanto, é também ele um repetente nestas andanças. Isto porque uns anos antes, ainda ao serviço do Salgueiros, tinha feito uma dupla capilarmente volumosa com Djoincevic.
Tratou-se, no entanto, de uma dupla “invertida”. Não falo das tendências sexuais, mas sim do conjunto barba e cabelo.
Enquanto que Luís, centro campista, se apresentava no relvado com uma tremenda cabeleira, também o defesa jugoslavo fazia tremer tudo e todos, mas com a sua espessa barba.
Estranhamente, enquanto que um era carinhosamente apelidado de Barby, era o outro que tinha cabelo e carinha de fazer inveja a uma boneca.



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