Thursday, April 12, 2007

Uma Questão de Confiança

No desporto rei, como em tudo na vida, a confiança é uma das mais importantes bases do sucesso. Obviamente que se um jogador não tiver jeito, pode ter muita confiança mas mesmo assim não será convocado pelo mister para o jogo de domingo à tarde. No entanto, o mesmo poderá acontecer a um grande jogador, se não tiver a confiança em alta.
Um baixo nível de confiança pode estar ligado a problemas pessoais ou de adaptação, falta de apoio do treinador, dores de barriga/cólicas, ou mesmo problemas no pagamento das prestações do zeppelin.
Um caso que salta à vista é o de Juan Roman Riquelme, astro argentino. No Boca Juniors, sob o comando de Carlos Bianchi, treinador que o idolatrava, Riquelme era um génio, a referência da equipa e um jogador que desequilibrava as partidas. Transferiu-se para Barcelona, onde encontrou uma realidade bem mais dura. O sisudo e geométrico Van Gaal cedo disse não precisar do jogador – primeiro aroma de falta de apoio -, o que juntamente com as inerentes dificuldades de adaptação a um novo continente, fez com que o nº10 proveniente das pampas fosse engolido por uma maré negra de falta de confiança. Na cidade condal nada fez, tendo sido emprestado posteriormente ao Villarreal.
Trata-se apenas de um exemplo de uma situação muito usual no futebol. Passando para o panorama nacional, podemos destacar algumas situações.


Andrejz Juskowiak

Avançado polaco melhor marcador dos jogos olímpicos de 1992, Jusko, como era carinhosamente apelidado, teve uma primeira época de difícil adaptação. No entanto, a segunda época começou de feição para o espadaúdo loiro. 10 golos nas 16 primeiras jornadas agoiravam uma época em grande para o ponta de lança. Fazendo uma regra de três simples, se em 16 jogos marca 10 golos, em 34 jogos marcaria 21 golos, suficientes para igualar Hassan no topo da lista de melhores marcadores, superando um Domingos Paciência em auge de carreira e a revelação do Tirsense, Marcelo.
Mas o futebol de ciência exacta pouco tem, e a mente humana é algo de obscuro e imprevisível, especialmente quando não se encontra medicada. Rezam as crónicas que Carlos Queiroz não tinha as qualidades humanas que eu exigi ainda há pouco, por ocasião do “anti efeito-sombra”. Nem a «vantagem de ter duas pernas», como certo dia um comentador verificou muito acertadamente, valeu a Juskowiak a redenção perante aquele que veio a treinar o Real Madrid.
Beneficiou o campeonato alemão, que passou a contar com um extraordinário ponta-de-lança.


Vítor Vieira

Grande promessa belenense, Vítor começou a época de 94/95 em grande nível, quer jogando como titular quer entrando já no decorrer da partida para invariavelmente injectar nova dinâmica ao seu flanco. Tudo isto nas seis primeiras jornadas, tendo voltado à equipa na 10ª e 11ª jornada, antes de ser descurado por completo pelo mister da altura, o luvas negras João Alves.
Será pelo Belenenses da altura possuír um plantel recheado de grandes valores para o lado direito, caso de Tulipa, M’Jid ou Zoran Ban? Ou será descriminação pela provável cena de peidos a caminho de Guimarães?* João Alves não teve a humanidade para ver que se tratava de um jovem de apenas 22 anos, e não soube extrair o néctar de uma fruta futebolística com uma doçura acima da média. Perdeu ele e o clube, enquanto “o nómada” foi fazer furor por outros clubes durante as épocas que se seguiram.

*Alusão a um provável acontecimento explicado no post dos Saltimbancos. Para mais, consultar o mesmo.

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